terça-feira, janeiro 09, 2007


O relógio anunciava a hora avancada: 1h30 da manha quando meu celular tocou. Achei que fosse algum amigo brincalhão, visto que eu acabara de receber um telefonema do genero.
Antes de atender verifiquei o numero: era meu irmão.
Atendi apreensiva pensando no motivo do telefonema aquela hora da madrugada. Ao dizer 'alô'meio desconfiada, desconfiado estava meu irmao do outro lado da linha. Ele falava normalmente, pausadamente, me perguntando onde eu estava e se estava tudo bem. Achei tudo muito estranho, pois aquele tipo de conversa voce tem de dia, não de madrugada. Fiquei aflita, não aguentei e perguntei o que tinha acontecido e com quem.
Ele tentou de maneira mais calma me contar que estava acontecendo algo sim, e comigo.
Parecia haver um grande zum zum zum de vozes por trás de sua voz receosa.
Entao ele fez um pedido estranho: que ligasse em seu celular para que ele se certificasse de que estava tudo bem. Sem entender muita coisa, obedeci. Depois com mais tranquilidade, explicou que haviam ligado para minha mãe dizendo que estavam comigo na favela ameaçando de morte uma hipotética filha de família raptada naquela mesma noite.
Até agora nao entendi muita coisa devido ao nervosismo de minha mãe, coitada –achando que sua única filha estava nas mãos de seqüestradores do PCC, daqueles que ligam a cobrar em sua casa, quebrando a traquilidade familiar atrás de dinheiro usando de mentiras.
Muito me assustei ao ouvir da boca de minha genitora que eles sabiam tudo de mim. Como? Me senti vigiada, invadida, exposta, desprotegida e o sentimento da raiva invadiu meus instintos: droga de cidade!
Na verdade são sábios malandros que se aproveitam do nervosismo de mães aflitas que vão soltando informações sobre filhos supostamente sequestrados, dando o alimento necessário para assustá-las ainda mais.
Soube que foram 15 minutos de negociãções até acordarem meu irmão que teve o espirito de ligar em meu celular para verificar a veracidade de tudo aquilo, visto que eles matinham meu pai no telefone fixo e minha mãe no celular a fim de evitar que ele entrassem em contato comigo.
E por mais que meu irmão agora ouvisse minha voz, mesmo assim quis se certificar pedindo que eu ligasse de volta confirmando meu bem estar. Pronto, confirmada minha presença em casa, telefones foram desligados e retirados do gancho.
Percebi que de nada adianta [um pouco talvez] saber desse trotes horrorosos pela internet, do que acreditamos nunca acontecer com nossa família.
Estou relatando justamente o que aconteceu comigo nesta madrugada, o que aconteceu desta vez com a minha família.
Este pequeno pesadelo invadiu a tranqüilidade de um simples lar paulistano de maneira arrebatadora, invasiva, sem pedir licença alguma. Deixou a todos apreensivos, nervosos com a violência que, a cada dia nos invade, e estamos a mercê disso.
E penso: porque atender a uma chamada a cobrar achando ser um filho ou um irmão em apuros que pode, de fato, estar precisando de ajuda? Não, a ordem e mudar os números de telefone, pois no desespero de imaginar um ente querido em perigo faz qualquer coisa, menos lembrar dos avisos daqueles emails com histórias de outras pessoas que passaram pela mesma situação.
Meu irmão antes de desligar comentou: que bom que não passou de um trote, todos tem uma história para contar, agora nós temos a nossa. Triste estatística.
Você pode estar em casa e um telefonema a cobrar mudar tudo o que esta acontecendo, e não passar de uma mentira, assim esperamos, que não passe de um susto. Mas qual o custo do susto? Ficarmos mais desconfiados? Olhar mais a rua quando chegamos e saímos de casa? Mais que o usual? Telefonar de 5 em 5 minutos para seus familiares para dizer que esta tudo bem?
Pode acontecer com você, com teu amigo, com teu vizinho.
Hoje aconteceu comigo e fico aqui tentando lidar com esse sentimento de impotência e percebo que somos reféns dessa violência descabida.
Como faço para dormir esta noite?