domingo, março 13, 2011

Caburé novamente

A primeira vez que estive em Caburé tudo era areia e um belo mirante de onde se via o mar separado do rio por uma pequena faixa de areia.
No ar sentia-se o gosto de água salobra*.
O rio, bom para se banhar, limpo e salado me chamava e mostrava sua vontade de me abraçar e levar-me embora maré abaixo.
Depois voltei, e por um tempo fiquei. Conheci gente, troquei idéias, nadei novamente nas águas salobras dessas margens maranhenses.
Deitei na rede e olhei as estrelas, infinitas, que esperavam a lua cheia.
A beira rio cantei as músicas que brotavam na mente e no coração.
Vi a vermelha revoada dos incontáveis Guarás que desfilavam em cima de nossas cabeças enquanto o sol nos dava adeus em um derretido mergulho nas águas límpidas do oceano.
agosto de 2005- Maranhão

saída da escola

Era manhã de domingo e o sol abraçava o chão de terra batida.
O som do motor ligado se confundia com a algazarra das crianças que se aprontavam para sair para o passeio.
Enquanto subiam nos carros, suas risadas misturadas com chapéus coloridos, mochilas, shorts e bonés a balançar com o vento, enchia a atmosfera marrom azulada de Barreirinhas.
A vizinha abria meia porta e colocava apenas o nariz para fora tentando entender o que se passava aqui fora.
A lembrança da chegada a Atins dias atrás, me levou àquele vilarejo por segundos. De volta a Barreirinhas pela passagem e uma bicicleta, me vejo sentada a observar o vizinho que retirava a sua rede-cama da varanda no intuito de começar seu dia.
Os minutos pareciam horas diante do olhar do senhor na varanda que observava a espera ansiosa das crianças.
A professora controlou tudo antes da partida no chão restou apenas a poeira banhada pelo sol que o esquentava.
agosto de 2005

quarta-feira, março 09, 2011

desejo

"Desejo primeiro que você ame,

E que amando, tambem seja amado.

E que se não for, seja breve em esquecer.

E que esquecendo, não guarde mágoa.

Desejo, pois, que não seja assim,

Mas se for, saiba ser sem desesperar.

Desejo também que tenha amigos,

Que mesmo maus e inconsequentes,

Sejam corajosos e fiéis,

E que em pelo menos um deles

Você possa confiar sem duvidar.

E porque a vida é assim,

Desejo ainda que você tenha inimigos.

Nem muitos, nem poucos,

Mas na medida exata para que, algumas vezes,

Você se interpelo a respeito

De suas próprias certezas.

E que entre eles, haja um pelo menos que seja justo,

Para que você não se sinta demasiado seguro.

Desejo depois que você seja útil,

Mas não insubstituível.

E que nos maus momentos,

Quando nao restar mais nada,

Essa utilidade seja suficiente para manter você de pé.

Desejo ainda que você seja tolerante,

Não com os que erram pouco, porque isso é fácil,

Mas com os que erram muito e irremediavelmente,

E que fazendo bom uso dessa tolerancia,

Você sirva de exemplo aos outros.

Desejo que você, sendo jovem,

Não amadureça depressa demais,

E que sendo maduro, não insista em rejuvenecer

E que sendo velho, não se dedique ao desespero.

Porque cada idade tem seu prazer e sua dor e é

Preciso deixar que entre eles

Escorram entre nós.

Desejo por sinal que você seja triste,

Não o ano todo, mas apenas um dia.

Mas que nesse dia descubra

Que o riso diário é bom,

O riso habitual é insosso e o riso constante é insano.

Desejo que você descubra,

Com o máximo de urgência,

Acima e a respeito de tudo, que existem oprimidos,

Injustiçados e infelizes, e que estão à sua volta.

Desejo ainda que você afague um gato,

Alimente um cuco e ouça o joão-de-barro

Erguer triunfante o seu canto matinal

Porque, assim, você se sentirá bem por nada.

Desejo também que você plante uma semente,

Por mais minúscula que seja,

E acompanhe seu crescimento,

Para que você saiba de quantas

Muitas vidas é feita uma árvore.

Desejo outrossim, que você tenha dinheiro,

Porque é preciso ser prático.

E que pelo menos uma vez por ano

Coloque um pouco dele

Na sua frente e diga “Isso é meu”,

Só para que fique bem claro quem é dono de quem.

Desejo também que nenhum de seus desafetos morra,

Por ele e por você,

Mas que se morrer, você possa chorar

Sem se lamentar e sofrer sem se culpar.

Desejo por fim que você sendo homem,

Tenha uma boa mulher, que sendo mulher,

Tenha um bom homem

E que se amem hoje, amanhã e nos dias seguintes,

E quando estiverem exaustos e sorridentes,

Ainda haja amor para recomeçar.

E se tudo isso acontecer,

Não tenho mais nada a te desejar”.

[Vitor Hugo]