quarta-feira, agosto 25, 2010



A lua brilhante, gigante no ar

A lua aluciante brilhante

A lua que me lembra aquela lua inocente faceira do mar

A lua silenciosa em estouros de luz

Lua marcante

Lua sensação

Sensação doída de saudade

Tá longe, tão perto

acalenta, ralenta, acalma, afoga, a lua lá em cima

causa furor, causa beleza

que reflete aqui embaixo

ora gorda, vermelha estupenda, queima o céu vespetino já rasgando seu horário

dividindo o improvável céu com o sol poente

ora linda prata

única dona do céu, só ela

lá em cima, reina na imensidão do lençol de estrelas

trazendo a saudade e a ligação

serve de presente

serve de admiração, serve de polêmica e desejo

a lua

de queijo

de crateras ou simplesmente de curvas

a lua e seu inseparável véu celeste

só ela

a lua

sábado, agosto 14, 2010

para L.

Eram duas meninas, que se encontraram não sei como na vida. Fato é que se identificaram e se tornaram muito amigas, tão amigas que se amavam como irmãs. As confidencias trocadas desde o início da amizade iam das intimidades familiares até questões e dúvidas relacionadas a meninos na época de escola. Ambas tinham uma doçura aparente, tinham uma bondade em relação ao mundo intrínseca marcada na alma, acredito que isso as aproximava também.

Seus gostos estavam se formando, eram meninas na escola, iam a festas, davam risadas juntas na hora do recreio, se ligavam sempre pelo telefone em uma época que não havia celular, e até os familiares já conheciam a voz da amiga quando atendiam o telefone, tinham amigas em comum e seus irmãos mais velhos estudavam juntos. Eram familias simpatizantes.

Era um tempo onde as preocupações eram outras, o que tinha dentro do horário escolar além da vida social, era o tempo que passavam juntas, os convites para ir pra praia, a troca de amizades fora do círculo da escola em programas divertidos, o cinema no final de semana, os almoços na casa alheia, as aulas de direção, os paqueras nas festas, as infindáveis horas trancadas dentro do quarto apenas conversando e tantas outros momentos são coisas que ficam impressas na memória do coração de cada um.

Há lembrancas que por uma razão ou outra te marcam tão fortemente que, apesar de deixar o momento vivido guardado em uma gaveta lá no fundo da memória, quando aberta, se tornam tão vivas quanto o exato minuto que foi presenciado. Isso acontece com cheiros, músicas, bilhetes guardados e até fotos.

Falo por uma das partes da história, a menina que estudou em um colégio onde a professora, falecida ela, não notou sua miopia quando ela reclamava não enxergar o quadro negro em momentos de bronca e não foi escutada. Isso a magoou profundamente a ponto de desestimula-la em sua vida escolar, mas intrigantemente, ganhou amigas muito dedicadas ao estudo e disponíveis suficientemente para serem verdadeira amigas e ajudar no caminhar desafado da vida escolar.

Divido aqui um destes momentos, quando por ocasião de uma prova de Biologia, a querida amiga estudiosa e muito espirituosa fez em conjunto comigo, uma música que nos ajudasse lembrar da referida doença ao verme que a causava. Cito este fato pois, depois de vinte e dois anos sou capaz de cantar a referida musica, como se estivesse no patio do colégio onde estudamos, ali perto da lanchonete da Dona Egle, no exato local onde criamos a tal da musiquinha.

Claro, os anos passam, e as amizades de colégio nem sempre perduram. Vem o caminho natural da faculdade e busca de interesses mais específicos na vida. Outras amizades são agregadas ao convívio diário, novas experiências são vividas, objetivos são traçados, a vida se torna um pouco mais séria e o dia a dia do colégio passa a ser uma doce lembrança.

Das amizades de colégio, conto com orgulho nos dedos de uma mão quem trouxe comigo e aprendi a cultivar dentro de uma nova realidade de vida: amores achados, amores perdidos, trabalho, casa, filhos, cachorro, supermecado e contas a pagar.

Pois é, no meio dessas andanças, uma das amigas foi conhecer o mundo, morou um pouco no exterior, fez e aprontou, mas acabou voltando para seu país. A outra amiga se mudou depois, mas se mudou mesmo, ela foi conhecer suas raízes e por lá ficou. Não que isso tenha as afastado, pois a comunicação nunca cessou, a ponto de confidencias sobre coisas muito importantes serem trocadas mesmo com um oceano de distância.

Mas acredito que as atribuiçoes diárias da vida de cada uma, a distância, os afazeres no trabalho, as responsabilidades com filhos, mas principalmenteta falta de tempo são fatores cruciais para criar um silêncio entre duas pessoas que foram um dia, tão próximas.

O que fica é a saudade, a melancolia de poder ter tido alguma atitude diferente em algum momento desajeitado, uma palavra que poderia não ter sido dita em relacao ao teu filho, um desencontro gigantesco dentro do pouco tempo disponível para esta amizade.

Sabemos que com esse mundo globalizado, as coisas se tornam mais rapidas, mais fáceis e velozes, mas isso tambem tirou o tempo de degustar as pessoas, de encontra-las com tempo para desfruta-las da maneira mais apropriada que merece uma amizade.

O que fica é a doce lembrança daquela pessoa tão especial e vontade de ter uma resposta ao seu email, ao seu oi assim, só para saber mais daquela que tem seu lugar marcado no auditório das amizades, das verdadeiras amizades.

Assim, o silêncio do lado de lá é abafado com músicas para a prova de Biologia, com fotos dos tempos de colégio, com notícias esparsas da nova familia formada nesse pais tão distante.

Pois no final, se a distancia nos mata, não permitirei jamais que o tempo mate o que sinto em relação a essa pessoinha.