sábado, agosto 27, 2011


Um dia eu sonhei que você me encontrou por ai
Sonhando acordada, borboletando 
Ébria  sorridente, enebriada da vida
Um dia eu sonhei que você se aproximava e pegava na minha mão,
Sem consciencia, eu deixei
Nesse dia você cuidou de mim e me colocou no carro
me levar para casa
Palco de tantas desilusões
Em silêncio aceitei
Encostei a cabeça e o tudo mudou
Olhos fixos nas casas que se moviam
A música deixou rastros para o barulho da chuva
As lágrimas se confundiram com as gotas transparentes através do vidro
A tristeza ocupou o banco do passageiro
E o rodamoinho veio
De dentro para fora e de fora para dentro
Um dia eu sonhei que você voltou ao local do crime
Mas com muito cuidado mudou sua atitude
Cuidou de mim
Me levou com calma e atenção até a porta
Fechada como meu coração
Um dia você encarou
Sua culpa, sua multa
Me conduziu, me cuidou e nada pediu
Um dia você se desculpou
E partiu

Fechei os olhos e acordei

quarta-feira, agosto 03, 2011

Cuento de hadas

Era uma vez, em uma terra não tão longínqua, nem em uma época tão distante, uma princesa que mudara a história de sua família com seu nascimento. Seus pais, há muito esperavam por uma menina, e seus três irmãos mais velhos aguardavam curiosos para colocar os olhos na única menina da família.
Os anos passavam e a linda princesa foi crescendo e, com toda a sua delicadeza, foi sobrevivendo aos irmãos muitas vezes truculentos em seu trato com ela.
Seus olhos lembravam o ônix tão cultuado naquele país, seus cabelos sedosos lambiam seu rosto quando corria pelos verdes prados, sua pele era macia como a lã das ovelhas e seu sorriso brilhava como o sol de verão.
Por muito tempo brincou sozinha, mas sempre buscava se aproximar de seus irmãos que não davam muita atenção, mas a protegiam cada qual de sua maneira peculiar.
Agora a princesa já arrancava suspiros dos príncipes de reinos vizinhos com sua beleza e seu canto enchia as paredes do castelo deixando-o mais colorido quando passava pelos corredores.
Ela era feliz e muito curiosa, seguia seus instintos e fazia suas descobertas. Aprendera a cultivar o amor pela natureza e os animais, diferenciando-se de seus irmãos que gostavam de outras coisas menos poéticas. Toda manhã enchia o quarto de todos com flores que colhia nos vastos jardins do reino e sempre, com muita delicadeza, oferecia a todos que encontrava um doce sorriso de mel.
Os anos seguiam e tudo corria bem no reino daquele governante poderoso e inteligente, mas que nem sempre conseguia usar a sabedoria para ser gentil e amável com seus súditos, que bem ou mal, o amavam.
Um belo dia, o sol deu lugar à nuvens escuras e rajadas de vento quebraram vidraças do castelo; montes de feno e árvores desapareceram com a força dos ventos, o céu ficou escuro e os pássaros se esconderam. Surgiu então um raio ametista muito forte vindo do horizonte que acertou em cheio os pais da linda princesa, que se escondia atrás de seus irmãos, que tentavam protege-la de qualquer mal.
Quando o vento dissipou, o sol não conseguiu atravessar as nuvens e o céu ficou todo cinza. No parapeito do castelo jaziam dois vultos transparentes: seus pais haviam sido transformados em estátuas de cristal.
Atônitos, os príncipes tentaram quebrar as estátuas a fim de salvar os seus pais, e a princesa aflita tentava arranhá-las com as mãos delicadas. Apenas a estátua do rei se quebrou, e dela saiu um cheiro muito forte e uma fumaça escura que cegou temporariamente as crias reais. Atrás dessa fumaça escura, saiu um animal cheio de escamas que se arrastou pelo chão e seguiu em direção ao pântano, e seu rabo foi a última coisa que eles viram antes de sumir embaixo das folhas cinzentas que descansavam no chão.
A princesa arregalou os olhos e se precipitou em direção ao pântano gritando o nome do pai, mas seus irmãos a impediram, agarrando-a com força. E foi aí que perceberam que seus olhos haviam mudado de cor: o ônix havia se transformado em ágata.
Desse dia em diante, a princesa andava pelo castelo cambaleante, como se não conseguisse enxergar direito, seu sorriso já não brilhava mais e seu canto havia silenciado. Com o passar dos anos, um a um de seus irmãos decidiu sair do castelo em busca de uma explicação para aquele feitiço horroroso. A princesa se viu sozinha e decidiu então ir em busca de algo que pudesse libertar sua mãe e trazer de volta seu pai.
Durante sua caminhada, havia encontrado um de seus irmãos que se casara e não pensava mais em seu passado. Isso deixou a princesa triste, pois pela sua cabeça passou a idéia de que os outros irmãos também poderiam ter desistido da busca.
Seguiu então obstinada em seu caminho guiado pelos olhos de ágata, que a levaram a lugares estranhos e  conhecer pessoas suspeitas além de sinistros seres alados que alimentavam-se de sua luz, levando-a para lugares que lhe pareciam  bonitos mas de péssima reputação.
Só que a princesa não conseguia ver como as coisas nem pessoas eram realmente, seus olhos tinham essa velatura que a impedia de ver a realidade como ela era de fato.
Apenas seu bondoso coração conseguia alertar a princesa das maledicencias e maldades que a rondavam, mas como ela sabia pouco da vida, acabava por se deixar levar pelo pouco que via através de sua turva visão.
Começou então a viver uma vida diferente da vida que levava em seu castelo, e pelos seus atributos e qualidades, tinha sempre muita gente ao seu redor, e nem sempre eram pessoas bem intencionadas e bonitas por dentro, mas isso a princesa não via. Viveu muita coisa nova, andou por lugares que nem imaginara que existiam, experimentou comidas exóticas, dançou com muita gente e aprendeu novos cânticos que queria mostrar a sua família.
Os seres alados, invejosos e possessivos, um dia a levaram para dentro de uma floresta muito escura e muito distante que apenas eles conheciam, para que ninguém mais a visse e sua beleza fosse admirada somente por eles. Nessa floresta os seres viventes não apareciam, e quando o faziam, era para machucar a princesa, que, para eles era apenas um ser estranho que fora largado ali sozinho.
O tempo se passou e assim ela aprendeu como lidar com os seres encantados: se fazendo passar por um deles. Até que um dia, conheceu uma bruxa que ali vivia escondida, perto do rio da floresta escura.
No começo achou que a bruxa fosse machucá-la, de tão feia que era, mas com o passar dos dias, foi se aproximando de sua casa, pois o cheiro de suas poções a atraíram. Depois de dias espiando a bruxa, ouviu-a dizer: faz muito tempo que você me observa menina, que tal tomar um chá comigo e me contar a sua estória, pois pelo que vejo, você não pertence a esse lugar.
A princesa espantada e curiosa, sentou-se ao lado da bruxa e com muito medo, começou a contar sua estória. As lágrimas corriam pelo seu rosto ao perceber que muito tempo havia se passado, e ela havia se transformado em uma bela mulher, que amava os bichos e a natureza, mas que havia se afastado de tudo que acreditava.
Ela havia se perdido tanto, e seu caminho desviado, que já não sabia mais o que buscava e nem como voltar para casa. A bruxa comovida perguntou o que era tinha nos olhos, a princesa sem graça explicou que ela nem sabia como seus olhos tinham ficado daquela cor, sendo que eram negros como jabuticabas, segundo sua mãe.
Foi então, falando com a bruxa, que a princesa começou a se lembrar de sua infância, de seus irmãos e de seus pais. Ficou triste, pois não sabia como sair dali e retomar suas buscas em direção a cura do feitiço. 
A bruxa disse que bastava seguir o rio para sair e que isso não era o problema, e sim tirar aquilo de seus olhos, esse era o verdadeiro problema, pois se tratava de um feitiço muito forte, mas que precisaria de tempo para anula-lo. Seriam ainda precisos muitos ingredientes para conseguir quebrar o feitiço e devolver os olhos de ônix da princesa.
A princesa disse que queria voltar a enxergar com seus olhos e se dispôs a buscar os ingredientes, que eram verdadeiras tarefas para um ser humano: ela teria que buscar a lasca da unha do dragão da montanha verde, pegar o bafo do cão elfo dos países baixos, cortar a grama do pântano fedido rio acima, capturar a bondade da fada dos dentes, cortar a ponta do chifre do unicórnio, ter um fio da cauda do centauro e duas penas da harpia dourada que vivia nas cachoeiras etéricas dos montes gélidos das terras do norte.
Corajosa, a princesa conquistou cada premio com a bondade de seu coração e levou tudo a bruxa, que na mesma noite preparou uma poção que pedia como último ingrediente o sacrifício de ter a membrana dos olhos de ágata da princesa.
Sem pestanejar, acreditou que, sem olhos, ela conseguiria ver apenas o que seu coração mostrasse, e assim o fez. A bruxa ficou impressionada com o sacrifício da princesa ao querer ver bem à sua família e a si própria que colocou um ingrediente secreto a mais na poção e, quando estava pronta, não fez a princesa beber e sim colocar em seus olhos a fim de lhe devolver a visão.
E assim, no dia seguinte, a princesa abriu os olhos, viu que na realidade a bruxa nariguda era uma linda fada que a havia ajudado a recuperar sua visão, e virou sua eterna amiga.
Quando voltou ao castelo de seus pais, viu que seus irmãos estavam lá com suas mulheres procurando-a.  Assim como ela, seus pais haviam se livrado do feitiço ametista que assolava família felizes. Sua mãe havia ficado muito tempo presa na estátua de cristal, por isso precisou de cuidados para o resto de sua vida. Seu pai se recuperou apenas pela metade, ficando com o rabo daquele animal asqueroso no qual foi transformado.
Ninguém descobriu porque o feitiço foi jogado na família da princesa, mas com tudo que ela havia aprendido com sua amiga fada, não haveria mais ameaças de novos feitiços e todos viveram felizes para o resto dos dias.