terça-feira, maio 26, 2009

É


é a louça que não termina nunca;
é o menino que reclama e não obedece sem negociação;
é o cão que quer sair, comer e brincar o tempo todo;
é o jornal que se espalha com o vento pela sala;
é a torneira que não para de pingar;
é o nervosismo entrando pelos poros;
é o telefone que toca descomprometidamente nas piores horas;
é o carro que está sujo e velho;
é o médico que preciso marcar;
é a ginástica que quero fazer;
é o beijo que quero dar;
é a praia que quero visitar;
é a onda que quero pegar;
é o amor que quero viver;
é o filho que quero ter;
é o prazer da brisa gelada de um lugar desejado;
é o brinde à vida a ser feito;
é a risada amigável a ser solta no ar;
é o abraço sincero e apertado;
é um milhão de amigos que não quero ter;
é aquele amigo que posso contar;
é aquela pessoa para quem posso ligar;
é aquela lágrima que posso soltar;
é aquele ombro amigo;
é aquele por-do-sol escarlate a brilhar;
é o gesto a favor;
é a voz baixa e veluda a acalmar;
é o não desistir diante das dificuldades;
é saber aprender;
é saber viver;
é saber chorar;
é saber levantar;
é saber achar a beleza em cada pequena coisa;
é poder trocar sem medo;
é poder trocar as armas por gestos positivos;
é a música celestial;
é o cheiro da manhã;
é a lenha que queima;
é o spam que nunca mais virá;
é o banco cobrando menos e dando mais;
é o aluguel alto;
é o condomínio atrasado;
é tudo que não temos e que precisamos;
é tudo que não precisamos;
é o lixo revirado;
é o lixo reciclado;
é o curso que não se pode pagar;
é o custo de vida;
é a outra cidade;
é a coisa que não acontece quando deveria;
é a oportunidade perdida;
é a dor da partida;
é o vão da despedida;


ai acho que vou começar a assistir novelas...

segunda-feira, maio 11, 2009

que medo

Ben Harper cantava suavemente quando, vindo da janela, ouvi um assobio do vento acompanhado de gritos de crianças assustadas.
Pela fresta da janela entreaberta, vi árvores de debatendo contra o vento. Intrigada me aproximei e, sem abrir a janela, constatei uma forte ventania que levantava folhas e papéis pela rua e redemoinhos de poeira diante dos olhos incrédulos dos transeuntes que corriam pela calçada.
Tudo na rua balançava, o cabelo das pessoas, os sacos de lixo que aguardavam o lixeiro, o espelho da garagem do prédio da frente, até o helicoptero parecia instável diante daquele céu cinza. Pensei na tempestade que viria em seguida.
A furia do vento esvaziou a rua, os vidros balançavam como se o vento quisesse entrar a força, ora parava, para depois recomeçar mais forte ainda.
Os trovões se aproximavam e o céu perdia seu azul para dar lugar ao cinza escuro.
Os primeiros pingos traziam a bonança prematura daquele vento assustador.
É...acho que vai chover