Sento-me na cadeira azul suja pelo tempo mas não desligo a música que entra pelo fone de ouvido, pois o programa que passa na televisão é ruim demais para merecer minha atenção.A porta se abre, vejo uma jovem com cara carrancuda despontar atrás da cadeira que é arrastada com toda força atraindo os olhares na sala de espera.
Observo sua saia rodada querer escapar do branco jaleco que a jovem veste -- chamam aquela cara de menina de doutora, e a saia combina com o mantra que entra pelos meus ouvidos.
O inusitado encontro com o ex paquera no metrô minutos antes de chegar àquela sala de cadeiras padronizadas me surpreendeu em todos os sentidos: fazia bem um ano que não o via, mas ele não havia me reconhecido na plataforma, disse que era por causa dos óculos escuros. Acho que mudei, mas acho também que ele continua demasiadamente distraído.
A conversa se estendeu ao longo das estações visto que nossas paradas eram próximas, despertando assim a lembrança do quanto ele era carinhoso naturalmente falando. Pensei:' porque nao deu certo?' Temos uma amiga em comum que conhece meu ex namorado, e os dois moços em questão se conhecem,fazendo rapidamente esta conexão, mais uma vez constatei que o mundo é bem pequeno e todos se conhecem, quase sempre. Isso desestimulou-me a investir novamente naquele moço alto e simpático que falava com entusiasmo de tudo que havia feito nesse tempo que deixamos de nos ver.
Tive a certeza de que não seria boa coisa quando toquei no nome do outro e senti um certo rancor por parte de ambos em relação ao provável concorrente, sem ter nada disso declarado, obviamente, mas é como se eles tivessem sentido, como se homens agora tivessem sexto sentido, ou eu é que dei bandeira demais. Confesso que não sou nada discreta.
Quando a menina-moça com saia indiana debaixo do jaleco me chamou e entrei na sala, novamente me surpreendi, dessa vez foi com a delicadeza que ela me apresentou paradoxalmente àquela impressão primeira adquirida ao chegar. Seu sotaque me chamou a atenção e me vi diante de uma mineira muito simpatica que se despediu amavelmente após um papo agradável dentro da sala.
Às vezes me pego questionando qual a real diferença entre essa megalópole que age como uma cidade provinciana e a cidade natal de minha mãe lá em Minas, que é infititamente menor que nossa cidade, mas às vezes você até consegue passar desapercebido.
Eu disse às vezes...