terça-feira, agosto 18, 2020


Você me viu
Nao te vi de imediato
você veio
bem devagar
depois se tornou intenso
eu deixei
a energia fluiu
o encontro aconteceu
de forma tao linda e verdadeira
foi real, eu sei
mas a névoa do medo e das incertezas
permeou nossos olhares
e nos perdemos
nao te encontrei mais
e quando minha mao te tocou
ja nao te sentia
voce estava com medo
e nao quis pular
nessa piscina
nesse abismo
da paixão
da vida

sábado, dezembro 17, 2016

formula um

Tarde se fazia e ela ainda não sabia se ia ou não até o lugar marcado, há quinze anos não o via.
Em sua cabeça lembrava-se de um menino franzino, mas que a havia marcado de alguma maneira, eram quinze anos sem ter nenhum contato. Era outro país, eram outras pessoas, era uma outra realidade, mas mesmo assim ela queria ve-lo.
Procurando seu primo naquela tarde, ligou no hotel e quem atendeu foi ele. Ela lembrou-se do nome, ficou surpresa, ele a reconheceu e a tratou com familiaridade, combinaram o encontro para aquela noite, mas ela chegaria tarde porque já tinha um compromisso marcado.
Mesmo tarde, de supetão, ela decidiu ir, sem avisar, pois pelo adiantado da hora, ele não deveria estar mais no local combinado. Ela estava constrangida, tinha outros amigos e seu primo, ela havia marcado com seu primo. Tentou ligar, mas a bateria de seu celular acabou. Mesmo assim resolveu arriscar.
O local estava cheio, muita gente e música alta lá dentro. Calmamente entrou na fila e esperou, imaginou, lembrou, fantasiou até que conseguiu entrar.
Fumaça, aglomerado, muita gente no mesmo lugar, ela achou aquilo surreal, precisava de uma estratégia. Decidiu ir para a esquerda, correndo o risco deles sairem pela direita, o local era estreito mas precisava ir ao segundo andar para poder localizar quem procurava. Andou, olhou em volta, subiu as escadas, não visualizou, desceu e decidiu ir ao último local onde eles poderiam estar: perto da banda que tocava ensurdecedoramente.
No meio das cabeças e ombros, visualizou aquele que parecia ser seu primo, ganhou alguns passos, se desvencilhou das pessoas e assim que obteve a certeza, ele tambem a viu. Abraçaram-se longamente. Com um largo sorriso no rosto, seu primo explicou que já estava bebado e se prontificou a pegar algo para beber, ela pediu uma caipirinha.
Quando se virou, seus olhos encontraram os dele, depois de quinze anos. Cumprimentaram-se calorosamente e todas aquelas pessoas a sua volta desapareceram. O tempo mudou de cor naquele momento, todo este tempo parecia que não tinha passado, por mais que novos dados da vida de ambos se fizessem presentes, nada mais importava.
Ele contou que possuia um vídeo daquele tempo que ela nem se lembrava mais, pediu seu email para envia-lo, pois agora o video estava digitalizado. Ela se impressionou, não se lembrava do tal vídeo, mas tinha outras tantas lembranças. Contou as suas, ouviu as dele.
A conversa fluiu como se o tempo não corresse, a noite pareceu uma vida, mas o final do show anunciou a alba que chegava. Ela sentiu-se a própria cinderela ouvindo as badaladas anunciando o final da festa que tanto esperou. Ele logo fez promessas de ve-la mais tarde, quis marcar, fizeram apostas, riram, mas a hora de se separar era chegada.
Os amigos o chamavam insistentemente, a van passaria no hotel para leva-los ao autodromo em pouco tempo, era a primeira vez dele no país e ele já torcia pelo brasileiro que lutava pelo título.
O primo respeitou quando viu que os olhares nao se desgrudavam.
O que teria acontecido há quinze anos, se eles tivessem saído juntos e se conhecido quando ela estava de visita no país dele? Porque será que ele não a convidou? Como teria sido a história deles? Será que algo teria mudado? Muitas perguntas engraçadas e absurdas surgiram, mas foi inevitavel falar disso: riram-se os dois pela inocência daquela época.
Agora eram dois adultos,cada um em seu país com sua vida, ele estava mais encorpado e maduro; ela mais bonita, mais mulher.
No mesmo ano, quando voltou de visita no país dele, ela havia perguntado dele para seu primo, mas não poderia passar dali, não se atreveu. E agora ele estava ali, diante dela, como cúmplices, lembrando-se de momentos antigos e construindo novos.
Ele dizia que seu olhar era penetrante, ela o olhava com profundidade. O tempo estava terminando e com ele a chance de sentir aquilo que eles tiveram receio há quinze anos. Ele parecia mais do que um velho conhecido, ele estava muito próximo, ela gostava de suas lembranças emocionais para te-lo perto, e ali estava ele, perto fisicamente também. E com esta proximidade, veio à tona todo sentimento que estava ali guardado dentro daquela caixinha encostava naquele canto, lá dentro, há tanto tempo, até empoeirado, mas cheio de coisas.
Coisas estas que eles nunca saboreariam se não abrissem a caixa antes dele entrar naquele taxi.
Mas será que eles deveriam abri-la?

quinta-feira, abril 16, 2015

Vida

Toda vez que observo silencioso perfil de meu filho, entendo um pouco de muitos sentidos desta vida.

sábado, março 21, 2015

Sem fôlego

Ali tão distante, quase engolido pelo mar de gente, ainda via reluzir os fios louros de sua cabeça acompanhando de olhares fugazes de adeus e paradoxalmente penetrantes.
Até onde nossas vistas alcançavam nossas mãos suspiraram no toque do último adeus - depois disso nossos corações seguiram juntos.
Agora já me encontro muitas estações distante, mas minhas lembranças me trazem seus olhos verdes me seguindo enquanto, atrás dos óculos escuros, buscava alguém que me esperava.
Ainda ofegante sentei esbaforida pela consciência do atraso.
Essa cidade...
Logo o chopp de 13 reais apareceu na minha frente e a conversa fluiu como se tivessem nos encontrado.

sábado, janeiro 25, 2014

Carta

oi,
vi tua mensagem, ela me lembrou que faço parte da tua vida, ou quase isso.

essa semana foi uma das mais difíceis que tive, 
muita correria, muito estresse e mais do que tudo, 
perceber que não sou um super humano para conseguir fazer tudo.

penso em joana d'arc, na mulher maravilha, todas se encaixam no que eu poderia ser, 
ou mesmo nos nomes que as pessoas me associam, 
mas no final do dia, olho no espelho eu sou apenas eu.

acordei falida hoje, 
sozinha consegui meditar um pouco, 
necessário me recuperar, respirar sem medo, voltar a tona.

primeiro quis ouvir o silencio, 
depois olhei para minha discoteca e nao achei nada que me apetecesse, 
até que lembrei do cd que um amigo me deu.
há meses ele estava ali, pacientemente me esperando.
ele esperava a hora certa de ser tocado.

agora ele tá aqui, rolando na sala, na casa, na alma.
gostei.

aí o calor tropical voltou a tocar meu coração 
e essa música regional está aqui dentro, 
participativa no processo de cura.

achei que vc ia gostar de saber...
espero que esteja tudo bem por aí

aqui, melhorando a cada minuto, 
dentro e fora.

quinta-feira, fevereiro 14, 2013

40 minutos



Estava completamente concentrada na minha pesquisa de final de expediente, quando Mayumi me perguntou se eu estava de bicicleta.
Voltei meus olhos em sua direção, tentando entender sua pergunta e consegui ver, antes dela fechar a porta atrás de si, o céu absolutamente negro.
Gentilmente ela sugeriu que eu saísse de lá, porque a chuva que estava chegando era pesada. Minutos depois, ela se despediu e sumiu pela porta, com certeza pensando chegar logo a algum lugar antes da chuva prometida.
Ela que falou tanto da falta de chuva no Rio durante o carnaval, estava agora fugindo do temporal que se aproximava. Sim, ela havia voltado para a cidade da garoa, ou dilúvios.
Sem pestanejar, desliguei meu computador e me apressei para sair. Por precaução coloquei a capa que havia comprado no show do Roger Waters e nunca havia usado. Não passava pela minha cabeça que eu precisaria de uma capa de verdade e não destas capas transparentes de beira de estádios.
Comecei a pedalar apressadamente e atravessei o Instituto Butantan ainda seca. Os pingos mais grossos começaram a atingir o capacete na descida em direção à Av. Vital Brasil. Logo estaria em casa, então liguei o pisca frontal da bike e o pisca do capacete para não ser atropelada caso a chuva apertasse.
Estava adivinhando, pois mal cheguei na Corifeu, a chuva já entrava pela minha nuca e molhava minha pele quente. Já não podia mais ouvir a música que tentava entrar em meu ouvido direito.
Enfrentei com coragem a avenida cheia de carros apressados; um motoqueiro tirou uma fina muito fina de mim e olhou para trás: ou ele estava impressionado pela minha perserverança naquele crescente de dilúvio, ou algo estava bem errado. E estava: quando cheguei em casa, descobri que o pisca do capacete estava desligado. Eu poderia ter sumido na névoa da ventania e sabe-se lá o que poderia ter acontecido comigo.
Com medo dos raios, observei a incidência de vento e contei as árvores por ali, me tranquilizei e segui firme pela avenida cheia de luzes vermelhas à minha frente.
Em um sinaleiro, aproveitei e mudei do lado direito da rua e fui para o lado esquerdo, que logo menos haveria uma entrada para a praça Elis Regina, refúgio daquela avenida cheia de carros e atalho para casa. Um outro motoqueiro me olhou com compaixão e deu espaço para que eu atravessasse na faixa e esperasse ao lado dele debaixo da cortina grossa de pingos gigantescos.
Quando consegui desviar de uma fiorino que nitidamente ignorava a existência de outros veículos, incluso bicicletas, e finalmente cheguei ao acesso da Elis Regina, parecia que minha roupa pesava 200 quilos e para meu deleite, encontrei outro sinal fechado. Aproveitei para beber água, embora parecesse redundante naquele momento visto que o único lugar que não estava encharcado era meu estomago. Já não me importava mais com a água, queria era mesmo chega logo ao meu destino.
O sinal abriu e me vi disputando um pedaço de asfalto com os  carros. "Ei, você não está vendo que estou encharcada e voce está seco aí dentro?”. Comecei a lutar contra o vento na contramão. A coisa começou a ficar emocionante demais para meu gosto.
O capuz da capa Roger Waters há muito já havia voado, e eu estava preocupada se o pisca  do capacete ainda funcionava – mal sabia eu que estava desligado. “presta atenção! estes carros não querem nem saber, vai pra tua mão que há uma subida poucos metros.”
Respirei fundo e, contra o vento, os carros, os pingos pesados do temporal, me rendi. Olhei para a bike guerreira e dei um descanso a ela e à minha alma. Porque fiz isso não sei, pois ao começar a andar ao lado da bike, parece que o filme começou a rodar em camera lenta.
Consegui arrastar a bike por meio quarteirão em aclive e montei novamente com o volume do ouvido direito mais alto. A coisa ia ter que ser na garra e na coragem pois no primeiro cruzamento o que deveria ser uma valeta, já havia um pequeno riacho descendo violentamente na direção contrária. Senti a água do chão quente, vinda do inferno.
Ignorei os carros e acreditando estar com o pisca alerta do capacete ligado,  me senti respeitada naquela situação de calamidade pública e não podia esmorecer tão perto de casa. Os óculos já queria jogar na rua, pois mais atrapalhavam do que protegiam e faziam-me praguejar enquanto equilibrava a respiração com eles na boca semi aberta. Obviamente a lei de Murphy tarda mas não falha: assim que virei a esquina, a chuva veio direto em meus olhos: isso só podia ser castigo.
Pronto, depois de uns 20 minutos brigando com a chuva, nem ligando mais para o selim molhado deixando a última parte seca de meu corpo igual a minha alma, estava prestes a descer uma ladeira considerável, mas que me levaria aos dois últimos quarteirões de minha penosa jornada.
Com cautela desci e com espanto me deparei com a reta final que me levaria a um belo banho quente: vi que havia um bueiro levantando água. Parei diante dele, pude ver com a força da água onde estava o obstáculo da rua, queria tirar uma foto, mas queria mais meu banho quente.
Ganhei alguns metros na rua e tive que parar no cruzamento de onde pude ver não um, mas dois outros bueiros levantando água em uma quantidade e força impressionantes. A vontade de tirar outra foto aumentou, aquela visão era hipnotizante, mas a chuva não deixou e meus pés haviam sumido na água que corria impiedosa.
Vi carros passando devagar pelo cruzamento, eu não enxergava a calçada do outro lado, então decidi subir a rua, assim eu poderia dar a volta e contornar esse cruzamento. Subi pela calçada, mas em certos momentos pensei em tocar em alguma casa para me esconder da chuva que castigava a todos que a enfrentavam.
Água fria vinha de cima e água quente vinha debaixo, comecei a sentir pedaços de gravetos e outras coisas dentro do meu tenis, fugi do pensamento inquisitivo do que seria aquilo tudo que agora dividia espaço dentro de meus sapatos ensopados, era como se eu estivesse descalça.
A água descia com tanta força que precisava empurrar a bicicleta com muita persistencia para conseguir vencer a corrente contrária. O que achei que seria fácil, se transformou em um longo martírio, pois o quarteirão não acabava nunca mais e não sabia quanto mais tinha que subir. Os minutos pareciam horas.
Passei em duas guaritas abadonadas que me jogaram para trás, pois a força que a água tomava após se desviar aquele obstáculo enorme era gigantesca. Quando finalmente vi a rua para entrar à esquerda, quase fui derrubada por um jato que vinha desviado de um poste incoveniente na esquina.
Subi sentindo a pena nos olhos das pessoas (secas) dentro dos carros que faziam o caminho inverso ao meu. Subi na bicicleta e ganhei velocidade, mas ao terminar o quateirão, vi que água alta não era privilégio do cruzamento que eu havia fugido. Agora estava bem perto e não poderia desistir.
Já não havia pudor em me molhar ou molhar a bicicleta: minha alma estava boiando naquele temporal então enfrentei o lago que havia se formado nesse ultimo cruzamento que me separava de meu banho quente.
Com o pensamento positivo fui novamente para a calçada onde havia rastro de chão, mas qual minha surpresa quando meus pés sumiram na água, depois minhas canelas e logo minhas pernas. Não tive dúvidas e resolvi salvar minha bike a colocando no ombro para passar por aquela banheira urbana de água quente.
Pela primeira vez olhei em volta e vi um senhor com a garagem aberta quase em prantos com a água nos joelhos que entrava impiedosamente em sua casa. Segui firme, já não via meus joelhos e, tateando os portões caminhava com cautela para não tropeçar: Já nem sentia o peso da bicicleta em meus ombros.
Quando virei a última esquina e avistei metros adiante, um pedaço do chão da rua, quase senti a água quente do banho batendo em minhas costas, mas o que escorria na real era uma água gélida e incômoda. Pensei na minha mochila, se sobraria algo seco embaixo da super capa do Waters, ironico waters.
Quando alcancei a rua, ainda pude avisar uma senhora que observava a rua sem saber se acelerava para o abismo molhado. “não vá por aí não!”, gesticulei através do vidro fechado. Ela agradeceu e me presenteou com um olhar piedoso.
Consegui tocar o interfone do prédio em companhia de uma música agitada do Gottan Project, era quase um sonho ter chegado.
O estado era lastimável. Dei algumas voltas no estacionamento subterrâneo antes de guardar a bicicleta para tentar secar um pouco a magrela e, pingando subi pelas escadas deixando um rastro aguado nos degraus. Quando cheguei no térreo, vi que a força do vento tinha sido tanta, que havia alagado tudo até os elevadores. Nem ri, nem chorei, subi mais um lance de escada, ignorando o fato. Joguei tudo no chão, abri a porta, corri para ligar o aquecedor e finalmente me enfiei debaixo da água quente.
Foram os 40 minutos mais impiedosos que passei em um percurso que costumo demorar apenas 10 entre o trabalho e minha casa.
Quando saí do banho nem preciso dizer que a chuva havia passado.
Ê lei de muphy que não falha nunca.




sábado, setembro 08, 2012

estórias de fantasmas

No meu plantão pós feriado no trabalho, recebi a feliz visita de minha amiga Mari e sua linda filha Marcela.
Acompanhei a visita delas o quanto pude e, ao levá-las até a casa Rosa, que foi por um tempo a escola rural do Instituto Butantan, comecei a contar as estórias de assombração que me contaram quando cheguei por ali.
Marcela, que tem 10 anos, não poupou-me em cortar minha alegria dizendo não ter medo de estórias assombradas, mas mesmo assim, ao longo da visita, me encheu de perguntas sobre as tais estórias.
No final ela não estava satisfeita, queria mais estórias enquanto meu repertório havia terminado.
Almoçamos juntas e comentamos como o meu filho fez falta para o quarteto estar completo, mas quando cheguei em casa, contei a ele sobre a visita e os comentários.
Estávamos lanchando eu e meu filho e contei também sobre as estórias de fantasmas que havia contado à Marcela, a amiga dele, naquela tarde. Ele riu e disse:  mãe, não existem fantasmas, eu pessoalmente já testei isso.
Perguntei como ele havia testado, e ele, calado, se levantou e sumiu da copa. Vi que ele cochichou algo com sua avó e desapareceu escada acima.
Um grande silêncio se fez e ao terminar meu lanche levantei-me e me dirigi às escadas para resgatar o pequeno, que deveria ter me esquecido depois da conversa de fantasmas.
Estava na metade da escada quando levantei o olhar para o topo dela e vi a figura que me aguardava: era um fantasminha juvenil debaixo de um lençol dando risada bem baixinho tentando disfarçar a alegria excessiva comprobatória de sua teoria. 
Não segurei o riso quando juntei as peças do quebra-cabeça: ele lançou sua teoria de teste e sumiu para prová-la se vestindo de fantasma, finalizando sua comprovação tão óbvia: mãe, não existe fantasma, eles na verdade são pessoas fantasiadas debaixo de lençóis. 

quarta-feira, julho 18, 2012

Apenas seguir


Há dias que você se sente mais derrotado que outros.
Quando se dá conta, já proferiu palavras que feriram e já deixou o impulso te levar por caminhos de pouco brilho.
Quando a ficha cai e o sangue esfria, a dor tem seu lugar garantido.
O melhor a se fazer é deixar que as lágrimas escorram e molhem a alma machucada; deixar o silêncio ser sábio e amargo a ponto de te fazer pensar.
Sentar-se debaixo do chuveiro quente e pensar em absolutamente tudo que você gostaria de mudar pode ser um começo. Não ficar só, mas sim ficar em companhia de si mesmo, em confidência com a pessoa que você mais convive e deveria confiar para achar as respostas que buscas.
Tentar de todas as maneiras aplacar esse sentimento ruim que corroi a alma é natural, mas o mais importante é deixar que, junto com a água, escorra seu sentimento de culpa, afinal somos humanos e estamos fadados a errar, seja por qual motivo for.
Se estas sentindo só como uma uva perdida embaixo da parreira, faça um chá, coloque uma música bonita e calma, deixe a água quente escorrer pelas costas, solte os pensamentos e mais do que isso: perdoe a si mesmo.
Pois sem ele, você não será capaz de aprender e seguir em frente.

quinta-feira, julho 05, 2012

Vôo

sou moça, sou mulher, sou casa, aconchego.
sou menina mulher, embebida de olhos negros.
o olhar profundo escorrega no abismo que observo.
sou artista na gaiola.
sou pássaro sedento por liberdade.
ganho o céu, voo livre:despenco no abismo e brinco nas alturas.
de olhos fechados me entrego, me jogo, me olho.
o abismo que olho, agora me observa atentamente.
sinto o peso leve que me leva para baixo e um golpe de vento me joga para cima.
o abismo se abisma e precipita...e eu me alontano.
simplesmente voo, eu mulher pássaro.

quinta-feira, junho 28, 2012

Ônibus



O sacolejar do ônibus deixa a musica mais agitada. 
A menina ao meu lado se contorce quando tiro o celular do bolso para escrever, mas o que posso fazer se, o meu encostar de cabeça no banco foi abruptamente iluminado por um raio furtivo que adentrou pelo teto solar e beijou minhas pálpebras sonhadoras? 
Isso me inspirou e a luz provocadora me trouxe de volta de Buenos Aires quando abri os olhos.
Céu cinza e a cabeça repleta de gottan project me inspira ainda a dar continuidade ao
frenético teclar na vã tentativa de conseguir registrar tudo que vai dentro da minha
cabeça.
Deixo me levar pela melodia e os amigos portenhos se despedem, fico com a loira
incomoda do mesmo banco...ja nem ligo para ela, que murmura algo. 
Ignoro: a musica acaba e da lugar a outra na língua castelhana.
Deixo a voz adocicada da cantora me envolver enquanto seguimos no lusco fusco do caminho.
E claro que o trânsito infernal dessa cidade de pedra nos testa a cada trecho percorrido.
Mas daqui a pouco chegarei no meu destino, abadonarei as buzinas, as infinitas luzes vermelhas e a loira emburrada ao meu lado...
aí sim começarei a pensar no próximo post...

obrigada pela caneta Rodrigo

domingo, maio 13, 2012

Sonhar


sonhei uma vez que tinha conhecido uma pessoa em um lugar distante da minha terra;
sonhei que poderia ter acontecido algo entre nós,
e o tempo simplesmente passou...
e um belo dia voltei a sonhar
e sonhei que essa pessoa tinha aparecido na minha vida novamente, mas não entendi bem o sentido...
e sonhei que o vi em um bar, bebendo com amigos, com pessoas conhecidas nossas.
sonhei que ele me queria, mesmo depois de tanto tempo...
simplesmente sonhei...
sonhei que poderia beijá-lo como nao tinha feito há dezesseis anos...
e sonhei que este sonho tinha virado realidade!
e que eu poderia sentir o que não tive a chance de sentir há tempos...
sonhei que tivemos uma noite mágica e que poderia durar o tempo que fosse...
sonhei que poderia ter vivido muito mais do que vivi...
sonhei que eu não tinha medo de sentir, de gostar, de viver...
que nos despedimos como nos filmes de cinema, coisa surreal de tão boa.
e sonhei que o veria novamente...

sonhei que ele não significava nada para mim, assim eu não sofreria com a separação.
mas sonhei também que sentia coisas fortes em relação aquela pessoa quase desconhecida.
e sonhei que ele queria ter mais um momento somente nosso, que eu queria também...
sonhei que fugimos de tudo e todos e tivemos de fato nosso momento, no início meio espinhento e descuidado um com o outro, mas depois suave e terno...regado a um bom vinho, comendo uma comida colorida cheia de sonho...

e sonhei que fomos tomar uma ultima cerveja juntos, todos amigos juntos.
sonhei que ele recebeu um telefonema no meio da comemoração e sua cara fechada me mostrou coisas que eu nao tinha visto antes nele...
sonhei que procurei seus olhos e não mais o vi naquela noite, o perdi.
e sonhei que se trouxe a tona assuntos tão delicados que eu não soube lidar,
sonhei que falei coisas das quais não me orgulho, pois são tão doloridas e dificeis de lidar que não sei nem como fazer isso...
sonhei que já estava bem ébria e em meio a um periodo dificil, ficou mais dificil lidar com feridas antigas...

sonhei que, ao me dar conta de ter visto coisas feias na pessoa que havia jantado comigo e me beijado com tanta paixão na outra noite, mostrei também coisas feias de mim.
sonhei que assim seria mais fácil me desvincular de um sonho impossível

sonhei que os ultimos momentos foram muito ruins.
sonhei que ele pedia desculpas que nao estava mais ali comigo...
 e sonhei que não me dei conta de muitas coisas que me dou conta agora...
sonhei que mostrar coisas feias às pessoas não é a melhor tática de esquece-las
mas as vezes fazemos isso insconscientemente...

e assim sonhei que o encanto se desfez, tão rapidamente quanto se fez...
e sonhei que poderia ter fechado a historia de outra maneira
sonhando assim que essa pessoa pode ter aparecido somente para me contar que posso gostar de novo de alguém de verdade, real.

sonhei assim que sentir coisas boas é bom, é sentir-se vivo, pois sonhei que estava dormindo, com o coração dentro da geladeira, com medo de sentir de gostar...

sonhei que encontrei o sentido dessa pessoa ter aparecido de novo:
a razão era para me mostrar que posso sonhar de novo

domingo, maio 06, 2012

Passado

Pequenas bolhas borbulham bordeando meu estômago.
a música alta nem me incomoda:
ela serve de trilha sonora para a incansável subida das bolhas no copo dourado,
que brilha no foco focado no único ponto de luz fixo.
algo destoa, mas mesmo assim nada estraga a espera.
a ausência já preenche o espaço no banco vazio à minha frente.
o desconhecido me intiga,
e a lembrança do último encontro 
enebria a alma inquieta.

quarta-feira, maio 02, 2012

TUNNG no MIS


incrível como abrir uma gaveta e achar um pedaço de papel ou sentir um cheiro antigo no ar ou mesmo achar um vídeo feito de maneira casa-eira (SIC) possa te levar para outros lugares em segundos.
hoje eu voltei no tempo, cliquei em um vídeo guardado há tempos, e esses cinco minutos me tocaram a fundo. gravei correndo, não ficou profissional, mas ficou na memória do coração, na minha memória.
hoje estive por alguns minutos de volta àquele auditório escuro com aquele show de luzes e sons. lembrei das pessoas com as quais convivi naquele ano tão bom e tão ruim, resquícios do que a vida pode nos trazer e ensinar.
levo essa música do Tunng em mim, como marca de um tempo vivido, de emoções sentidas a fundo, de aprendizados políticos infindáveis, de relações descobertas e principalmente de mim menina mulher vivendo intensamente, pois não sei viver de outra maneira...

vontade de ser mais

às vezes essa sensação de ser uma formiguinha não desgruda de meu âmago.
é certo, elas tem seu mérito: carregam coisas acima de seu peso, para lá e para cá, trabalham muito, constroem precisos complexos onde moram. e tudo isso para um dia vir alguém e furar entrada de sua casa e se alimentar de suas colegas. mesmo assim, elas pacientemente começam a construir tudo de novo.
as formigas são organizadas, são cúmplices, são uma equipe.


eu não sei trabalhar se não for em equipe, não sei viver de forma isolada. 
certo que temos nossos momentos de isolamento, mas não dura, 


qualquer hora você sente saudade de um bom bapo com uma amiga, 
ou quer dar risada na mesa de um restaurante.
quer ver, quer ser visto.
ou nem isso, quer somente se relacionar, ouvir musica, se divertir, 


simples como o suave bater das ondas na rocha,
do sorriso maroto da criança no carro ao lado,
da pincelada de um artista na tela branca,
o bater das asas da borboleta recém saída do casulo,
o abanar do rabo do cão que vê seu dono,
do queimar de uma vela,
do gole de vinho absorvido pela boca,
de um olhar confidente entre amantes,
do silencioso nascer do sol,


simples como uma formiga.

Silenzio


Il silenzio mi abbraccia, mi coinvolge
e coinvolta mi trovo
lui mi soffoca e me stringe contro il muro
stringe in me stessa
lui mi conforta, mi abbraccia e mi protegge
dentro de lui riesco a trovare tutte le risposte
de tante domande
dentro de lui mi sento sola
persa nella scurità
persa nella immensità
nello silenzio mi incontro e mi sento persa
mi capisco
lui é mio amico, mio confidente
nella difficile caminata di molto lavoro
silenzio,
cosa vuole di me?

no inverno tudo parece tudo meio inferno
esse frio que não passa
essa fome que me mata
fome de gente
fome de luz
de calor
inferno que não queima, 
congela
a alma da gente
o sorriso, o abraço
a distancia que silencia
a voz que não grita
mas ecoa na alma
silencio
solidão
reflexo
apenas frio

quarta-feira, abril 18, 2012

Silêncio
Fecho os olhos e só vejo o silêncio
Tento resgatar a melodia do passado
Do amor, do calor, carinho
Me deparo com uma parede de gelo
E o silêncio que me consome
torna-se o frio que aquece o sangue
Fico olhando meu hálito congelado
Congelando minha alma
Dói
Olho pra luz
Vejo um vulto
Grito
Minha resposta é o silêncio
Grito mais alto
mas
Ninguém me ouve
Ninguém me vê
Ninguém 

quarta-feira, março 14, 2012

Entardecer

Debrucei-me no parapeito da janela e olhei para fora. Vi a rua muitos andares abaixo, observei as pessoas caminhando no lusco-fusco.
Meu olhar se voltou para o prédio do outro lado da rua e, diante dos meus olhos podia ver mais de sessenta janelas que aos poucos iam acendendo as luzes com a chegada da noite. Podia ver janelas abertas, outras fechadas, outras sem luz nenhuma, haviam aquelas com meia persiana e, aos poucos, as pessoas começavam a povoá-las.
Fui percebendo que as janelas estavam povoadas de mulheres, e todas se arrumavam: saíam nuas do banho, se vestiam e se pintavam. Invariavelmente estavam sozinhas e havia algo em comum a todos os quartos: em todos a televisão estava ligada, o que fazia daquele prédio uma cortina de retalhos luminosa.

Uma das janelas me chamou atenção. Parecia apenas uma garotinha, seu corpo era incompleto, infantil. Quando tirou a blusa, quase não tinha seios, estava diante do espelho e se pintava com cuidado. Percebi que o que achava que era uma garotinha, na verdade se tratava de uma prostituta se arrumando para começar seu turno. Ela não estava sozinha e não demorou muito pude visualizar sua companhia que passou rapidamente pela janela, era um homem. Ela continuou se pintando sem blusa e quando se virou de frente para a janela, percebi que não se tratava de uma menina e sim de um travesti.
Pensei que poderia ser um travesti morando com seu cafetão...
Quando a companhia da figura que se arrumava diante do espelho saiu do banho, para minha surpresa o vi vestido, de boina na cabeça com roupas extremamente justas e gestos bem afeminados.
Seria um casal?
Dali um tempo de observação, notei que os dois discutiam. Ela pronta para sair com sua mini saia vermelha e um top da mesma cor fazendo conjunto com o sapato reluzente. No meio da discussão, os dois se afastaram da janela.
Voltei os olhos cansados para a rua, já havia decorado como um jogo de memória, todas as peças que circulavam pela calçada em busca de programas. Abandonei o parapeito em busca de um copo de água e quando voltei, havia uma figura nova na rua. 
Além das duas mulheres reconchudas que não arranjaram programa e a outra mais ousada com formas mais delineadas que conseguiu arranjar-se com dois prováveis turistas, a figura nova era nada menos que quem eu observara o tempo todo se arrumando. Não demorou muito e logo se arranjou com uma carona após duas ou três propostas de transeuntes aleatórios.
Quando fui conferir o que havia acontecido com sua companhia, percebi que debaixo das roupas justas e da boina, morava outro travesti, que agora se pintava na frente do espelho. Por um momento largou tudo e veio até a sacada olhar a outra que havia saído: tarde demais, ela já havia entrado no carro. Ele ficou a olhar para baixo, como eu, só que eu era invisível.
Abandonei novamente minha função de observadora e me sentei na cama. Agora comia batatinha frita enquanto observava a figura do outro lado da rua que ainda buscava sua companhia lá embaixo, na rua.
De repente algo me chamou a atenção: uma quebra crescente do barulho habitual dos últimos minutos de carros acelerando e brecando na rua. Quando me aproximei da janela, ouvi gritos no ar, as pessoas estavam agitadas e ninguém sabia de onde vinham os gritos, que foram aumentando cada vez mais, assim como a expectativa para saber de onde vinham os tais gritos.
Pude distinguir duas figuras correndo sem saber ao certo qual direção seguir, corriam com toda sua energia empurrando quem estava no caminho, atravessaram a rua e sumiram a esquina. Na cola deles estava uma loira com 99% de chance de ser uma turista recentemente roubada; ela era a dona dos gritos, e corria desesperada.
Quando os dois cruzaram a rua em direção à esquina, apareceu um carro cantando pneu na contramão com a sirene ligada, eram policiais civis que chegaram segundos mais tarde e perderam os ladrões.
Provavelmente aquela turista perdera tudo que carregava, ou quase tudo... e pensei na maldade humana.
O que os homens fizeram com eles mesmos?
Minutos depois tudo voltou ao ritmo anterior: pessoas andando, prostitutas buscando clientes, cada um seguindo sua vida.
Como se nada tivesse acontecido.
Voltei para a cama e terminei o pacote de batatinhas.
Era noite.

Roma 27 di luglio'93