sábado, dezembro 17, 2016

formula um

Tarde se fazia e ela ainda não sabia se ia ou não até o lugar marcado, há quinze anos não o via.
Em sua cabeça lembrava-se de um menino franzino, mas que a havia marcado de alguma maneira, eram quinze anos sem ter nenhum contato. Era outro país, eram outras pessoas, era uma outra realidade, mas mesmo assim ela queria ve-lo.
Procurando seu primo naquela tarde, ligou no hotel e quem atendeu foi ele. Ela lembrou-se do nome, ficou surpresa, ele a reconheceu e a tratou com familiaridade, combinaram o encontro para aquela noite, mas ela chegaria tarde porque já tinha um compromisso marcado.
Mesmo tarde, de supetão, ela decidiu ir, sem avisar, pois pelo adiantado da hora, ele não deveria estar mais no local combinado. Ela estava constrangida, tinha outros amigos e seu primo, ela havia marcado com seu primo. Tentou ligar, mas a bateria de seu celular acabou. Mesmo assim resolveu arriscar.
O local estava cheio, muita gente e música alta lá dentro. Calmamente entrou na fila e esperou, imaginou, lembrou, fantasiou até que conseguiu entrar.
Fumaça, aglomerado, muita gente no mesmo lugar, ela achou aquilo surreal, precisava de uma estratégia. Decidiu ir para a esquerda, correndo o risco deles sairem pela direita, o local era estreito mas precisava ir ao segundo andar para poder localizar quem procurava. Andou, olhou em volta, subiu as escadas, não visualizou, desceu e decidiu ir ao último local onde eles poderiam estar: perto da banda que tocava ensurdecedoramente.
No meio das cabeças e ombros, visualizou aquele que parecia ser seu primo, ganhou alguns passos, se desvencilhou das pessoas e assim que obteve a certeza, ele tambem a viu. Abraçaram-se longamente. Com um largo sorriso no rosto, seu primo explicou que já estava bebado e se prontificou a pegar algo para beber, ela pediu uma caipirinha.
Quando se virou, seus olhos encontraram os dele, depois de quinze anos. Cumprimentaram-se calorosamente e todas aquelas pessoas a sua volta desapareceram. O tempo mudou de cor naquele momento, todo este tempo parecia que não tinha passado, por mais que novos dados da vida de ambos se fizessem presentes, nada mais importava.
Ele contou que possuia um vídeo daquele tempo que ela nem se lembrava mais, pediu seu email para envia-lo, pois agora o video estava digitalizado. Ela se impressionou, não se lembrava do tal vídeo, mas tinha outras tantas lembranças. Contou as suas, ouviu as dele.
A conversa fluiu como se o tempo não corresse, a noite pareceu uma vida, mas o final do show anunciou a alba que chegava. Ela sentiu-se a própria cinderela ouvindo as badaladas anunciando o final da festa que tanto esperou. Ele logo fez promessas de ve-la mais tarde, quis marcar, fizeram apostas, riram, mas a hora de se separar era chegada.
Os amigos o chamavam insistentemente, a van passaria no hotel para leva-los ao autodromo em pouco tempo, era a primeira vez dele no país e ele já torcia pelo brasileiro que lutava pelo título.
O primo respeitou quando viu que os olhares nao se desgrudavam.
O que teria acontecido há quinze anos, se eles tivessem saído juntos e se conhecido quando ela estava de visita no país dele? Porque será que ele não a convidou? Como teria sido a história deles? Será que algo teria mudado? Muitas perguntas engraçadas e absurdas surgiram, mas foi inevitavel falar disso: riram-se os dois pela inocência daquela época.
Agora eram dois adultos,cada um em seu país com sua vida, ele estava mais encorpado e maduro; ela mais bonita, mais mulher.
No mesmo ano, quando voltou de visita no país dele, ela havia perguntado dele para seu primo, mas não poderia passar dali, não se atreveu. E agora ele estava ali, diante dela, como cúmplices, lembrando-se de momentos antigos e construindo novos.
Ele dizia que seu olhar era penetrante, ela o olhava com profundidade. O tempo estava terminando e com ele a chance de sentir aquilo que eles tiveram receio há quinze anos. Ele parecia mais do que um velho conhecido, ele estava muito próximo, ela gostava de suas lembranças emocionais para te-lo perto, e ali estava ele, perto fisicamente também. E com esta proximidade, veio à tona todo sentimento que estava ali guardado dentro daquela caixinha encostava naquele canto, lá dentro, há tanto tempo, até empoeirado, mas cheio de coisas.
Coisas estas que eles nunca saboreariam se não abrissem a caixa antes dele entrar naquele taxi.
Mas será que eles deveriam abri-la?

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