quarta-feira, setembro 26, 2007

sexta-feira, setembro 21, 2007

frases



A água que bebi

na fria fontana

queimou meus lábios


A água de tão fria,

como fogo ardia

até minha alma.


Ledo Ivo


Muitas vezes a decisão

é a arte de ser cruel a tempo.





Henry Becque

flor de liz



os primeiros dias foram os mais difíceis.
os pensamentos pareciam tambores ecoando dentro de mim.
as lembranças me vinham à frente dos olhos sem minha permissão.
me pegava parada imersa em pensamentos entre o real e o colorido ilusório da dúvida.
os questionamentos me queimaram a pestana em busca de explicações lógicas para a imposta situação.

doía lembrar,
doía saber que a única coisa que eu tinha eram apenas vestígios de minhas lembranças,
doía saber que não podia ter mais nada,
doía saber que eu teria que me apoiar somente em mim mesma,
doía a frustração da impotência diante de fatores externos.

os dias foram passando
as vezes achava que não podia respirar direito.
pratiquei o exercício de controlar-me para que, ao descobrir-me imersa em momentos de ausência,
não deixar que o estranhamento prevalecesse.

até que a nuvem a minha frente começou a dissipar-se.
uma música saiu de minha boca e me deixou leve.
a lembrança da voz de djavan cantando flor de liz me trouxe muita calma.
explicou muita coisa.
me acalmou, e voltei a sorrir.

já estava melhor.
isso era fato, pois hoje duas semanas depois estou de pé.
a recuperação foi rápida e já dou risada quando olho para trás.
e roubo as palavras de Cyro dos Anjos:
A vida é um tecido de equívocos...

quinta-feira, setembro 20, 2007

vitae et mortis

"...queixa-se de uma saudade que a acompanha a cada momento, saudade de alguma coisa que ela não sabe o que é. Não compreende como ame tanto a solidão e ache tão insuportável viver sozinha....tem uma certa simpatia pelas pessoas complicadas e julga compreendê-las bem. Acha desinteressantes as pessoas normais. Diz que a sua extroversão é uma forma de introversão." Maysa

Você chega sozinho e é abraçado por muitos—ao menos um.

Quando você parte é abraçado por ao menos um para poder ir em paz.
De onde viemos e para onde vamos ninguém sabe, a não ser aqueles que vão, pois não possuímos memória suficientemente consciente para nos lembrarmos do lugar onde estávamos — ficamos em algum lugar antes de nascermos?
Portanto, o único momento que tem para nos unirmos às pessoas e criarmos laços, é nessa nossa rápida passagem pela existência terrenea.
O ser humano é muito complexo e acaba se enroscando em emaranhados psicológicos — muitos deles explicados por Freud — perdendo muito tempo em driblá-los ou convencendo-se que todo e qualquer problema decorrente de algum trauma é motivo para não criar laços.
Conheço gente que tem discursos lindos, mas completamente paradoxais às suas próprias atitudes, e que não se dão conta o quanto conseguem ser superficiais nesse sentido.

E me questiono: será que a vida tem sentido se passarmos dando apenas rasantes evitando o mergulho?
A vida nos dirá [ou não] e a morte também.
Para os crentes será sempre aprendizado para a[s] próxima[s] vida[s] —assim como um legado— pois tudo que fazemos aqui servirá contra ou a favor nas próximas.
Para os descrentes, é melhor não perder tempo com nossas complexidades internas.


A vida é curta demais para andar no caminho certo, mas na mão errada.

segunda-feira, setembro 17, 2007




Quando o silêncio se fizer mais
pesado ao redor de teus passos,aguça os ouvidos e escuta.

A voz do amor ressoará de novo na
acústica de tua alma,e as grandes palavras que os séculos não apagaram,voltarão
mais nítidas ao círculo de tua esperança.

Para que tuas feridas se convertam
em rosas e para que o teu cansaço se transubstancie em
triunfo.


São Francisco de Assis

quarta-feira, setembro 12, 2007

parte 2: hoje


As lágrimas secaram e a fumaça me envolve em um abraço amigo.
Que bom sentir novamente.
Sentir e não achar que, em relação à certas partes humanas, nada mais acontecia.
Olhar à minha volta e tomar exemplos esperançosos como amuleto e saber que um dia será a minha vez, é preciso me preparar para isso.

Fim do cigarro e começo de um novo tempo.

A barriga ronca anunciando novamente a comunhão das partes como um todo.

Que figura triste esta que se enganava achando que 'jogar' com as regras alheias traria felicidade ao coração frágil neste momento...

O medo da auto-promessa de se fechar novamente traz a consciência da amargura eminente.
Possibilidade detectada e imediatamente afastada.

É hora de levantar e recomeçar.
Afinal tudo tem sua hora.
Agora é meu momento.
Preciso do mar e de muita coragem.
Para voar novamente e alcançar novos horizontes.


E assim fechamos mais um capítulo,
mais uma porta que se fecha na espera de uma janela bem colorida se abrir.

ontem

A chama do cigarro é a unica coisa que me aquece o coração nessa madrugada fria.
talvez outra mulher tivesse aguentado o que passei, talvez soubesse lidar melhor.
E, das poucas palavras que escutei, pude perceber o quão sou imperfeita.

Me igualo, por um breve momento, quase imperceptível, [quissá] à unica pessoa que amei de verdade.
Isso foi há muito tempo.
Paro e me dedico à imagem de menina desprotegida procurando abrigo para toda sensibilidade.
Hoje penso se haverá lugar para ela em algum lugar.

Aceitar aquilo que me agride é saber viver de forma saudável?

Dói hoje.
Amanhã carregarei a certeza do adeus bem dado.
É uma página difícil, mas nem impossível, nem a primeira a ser virada.
Não vou olhar para trás, tão pouco me lamentar.
Como sempre, guardarei as coisas boas e o tempo se encarregará de me ensinar o que deve ser aprendido.

O balanço de histórias vividas me traz novamente à memória a pessoa que me ensinou a amar, a odiar, a ter medo e machucar.
Tudo aprendido/apreendido de uma só vez.
Seria isso possível?


Não sei ser algo diferente do que sou, sei ser eu em minha totalidade e ainda sei de algumas coisas que aprendi.
Aprendi também que chorar traz leveza, colocar para fora aquilo de ruim que está te machucando dentro, te livra do ferimento e da amargura.

Olhar para frente e tentar desembaçar a vista para enxergar o horizonte e às lindas coisas que estão a tua volta, é um exercício que se deve fazer todos os dias, principalmente quando se toma um tombo.
Quando se aprende, não se esquece.
Creio que é como andar de bicicleta.

A imagem de mim mesma sorrindo amanhã não anula a necessidade de sentir com toda sua força e intensidade a tristeza deste momento, por mais que a confusão tome conta do coração doído.

Não há colo que afague a dor, há a solidão acalentadora do sofrimento.
Há a musica capaz de levar para longe a cabeça transtornada.

Todos os dias tomamos decisões na vida.
Hoje tomei uma bem difícil para mim.
Mas decidi gostar mais de mim me valorizando.
Hoje optei por mim.

Sei que é uma semente que vai brotar um dia e que se, por ventura, eu não consiga chegar onde quero, nem encontrar real e efetivamente o que se possa chamar de espaço para que algo exista verdadeiramente, sei que no final eu tentei e será uma tentativa com muito aprendizado e legitimidade.

Já me sinto melhor, pois é tempo de curar, em todos os sentidos em todas as línguas.