sábado, janeiro 22, 2011

respirar ar


não tente me colocar em uma gaiola,
achando que que você me terá.
não tente cortar minhas asas,
achando que matarás meu desejo de voar.
não tente me dar o silêncio,
achando que as coisas não são percebidas no vácuo.
não tente vendar meus olhos,
achando que não enxergo no escuro.
não tente tampar seu ouvido,
achando que não me expressarei.

só deixe fluir,
como o voo silencioso do pássaro que ganha o horizonte

sexta-feira, janeiro 21, 2011

falta ar

Muitas coisas me fazem sentir sua falta.

Desde a necessaire esquecida no banheiro, a toalha esperando ser usada, a dúvida quanto ao banho a ser tomado sozinha e escolha do vestido surrado que você adora.

A cama imensa é cruel, mas poder deixar a persiana aberta para o sol entrar pela manhã lembrando que o dia já começou é demais.

Estou fazendo progressos também. Caminho sozinha e apoio o pé no chão. Sinto os pés no chão, e a alma leve.

Vou fazer a autobiografia, a minha autobiografia.

Com o livro começado há dias nas mãos, e comprometida com o findar do livro, ouço um barulho cadenciado que me chama a atenção. Deixo o livro e abro a janela em busca do esclarecimento do mistério.

Vejo a chuva cessando e a cidade quase adormecida. Isso me acalma, observo o bairro de cima, quase não reconheço o restaurante japonês nosso vizinho que íamos juntos.

Viro-me para dividir a descoberta e fico com o silêncio e a sombra de tua ausência.

Tudo que olho e vejo, que escuto e ouço, que penso e repenso hoje especialmente está ligado a você.

sábado, janeiro 15, 2011

Schindler

Acabei de emudecer após o término do filme “A lista de Schindler “do Spielberg. O filme todo é baseado em fatos reais e, graças a isso que podemos exercer nossa sensibilidade para tentar imaginar o que foi a dura e cruel realidade da Segunda Guerra para os judeus poloneses.

Schindler me tocou pois, a princípio, se mostrou um empresário alemão ganancioso que encontrou na mão de obra judia barata, uma maneira de enriquecer na Cracóvia em Guerra. Mas que, ao longo do tempo, seu intuito se torna ajudá-los, gastando sua fortuna para salvar vidas que seriam eliminadas nos campos de concentração nazistas.

Chamou-me a atenção uma das última cenas do filme: depois que Schindler se despede dos 1.200 operários de sua famosa lista, que conseguiu evitar a ida para Auschwitz, o carro parte logo depois da meia noite, horário oficial do final da Segunda Guerra, deixando todos os judeus sobreviventes à espera de sua sorte.

Falo sobreviventes da guerra, mas me dei conta que a partir do momento em que um soldado russo vem até o campo no dia seguinte à rendição alemã, onde todos dormiram ao relento esperando o dia amanhecer, questionamentos como ”para onde vamos”, o que iremos comer e sera que há algum sobrevivente na Polonia, tomam conta de cada um.

A partir daquele tão sonhado momento, o da liberdade anunciada, vem com ele uma grande insegurança: aquelas pessoas foram abençoadas com a proteção de um homem do partido alemão que os trouxe para a sua fábrica e agora seria caçado pelos aliados, não tinham para onde ir.

Tinham caminhado tanto, tinham sobrevivido à uma guerra tão dura de maus tratos à alma e corpo. Agora se deparavam com o momento pós-guerra, onde escutam do soldado que eles não deveriam ir a oeste que não seriam bem recebidos, tão pouco para leste…então uma nova sombra cerca seu futuro: para onde ir, de onde recomeçar. Ali estava marcado que eles deveriam começar um longo caminho ligado novamente à sobrevivência.

E sobreviveram. Na última cena do filme, aparecem como os judeus Schindler que vieram prestar sua homenagem ao seu salvador. Nesta hora, podemos ver as personagens que, ao lado dos verdadeiros donos dos nomes que carregaram, colocam uma pedra no túmulo do verdadeiro Schindler que jaz debaixo do sol em Jerusalém. Nessa procissão, vemos o pequeno Olek que se jogou numa latrina para sobreviver, homem feito, a Sra Schindler que ficou ao lado dele em seu retorno a casa, e tantos outros que pudemos acompanhar e padecer em lágrimas só de imaginar o que estas pessoas passaram nos momentos retratados ao longo de mais de três horas de filme.

Não consigo imaginar o que cada um desses, me atrevo a chamar de heróis de guerra, passaram para conseguir sobreviver a anos de privações e injustiças, além das perdas intestimáveis de parentes que se perderam entre os 6 milhões de judeus que foram sacrificados como se suas vidas nada valesse. Mas consigo me sensibilizar com esse sofrimento e revoltar-me com a crueldade e perversidade de uma ideologia que pregava o ódio e a intolerância.

Já vi diversos filmes sobre o tema do Holocausto e já tive contato com sobreviventes, e não há nada mais nobre e honroso que poder ter contato com um sobrevivente. Alguém que, ao meu ver, que não tinha nada com isso e pagou um preço muito alto.

Muitos, com a própria vida.

quarta-feira, janeiro 12, 2011


às vezes o que a gente procura não é o que a gente procura, mas o que a gente acha.

terça-feira, janeiro 11, 2011

super o que?



Sou supersticiosa, isso é fato. Desde que tenho consciência do significado da palavra, a sigo e respeito profundamente desde os rastros mais superficiais até os mitos mais profundos.

Algumas crendices carrego da adolescência, como falar pão com manteiga ao se deparar com algum obstáculo físico entre duas pessoas que caminham lado a lado na rua para que não haja discordia entre elas ou não passar por debaixo de escadas encostadas em paredes. Outras aprendi pela vida e experiência como escutar aquela vozinha discreta que nos sussurra ao pé do ouvido dizendo para não pegar aquele caminho e virar na próxima esquina.

Acho que devo isso às minhas raízes mineiras, berço de muitas histórias sensasionalistas, outras apenas reais. Quando descobri que o lugar onde minha infância frequentou era a terra do famoso Chico Xavier, dei uma outra conotação às histórias que minhas tias e primos contavam. Comecei a olhar esses causos de maneria mais apurada e me abri para enxergar outros lados desse prisma.

Apenas quem convive comigo sabe que sou daquelas pessoas que dão importância às sincronicidades que nos são apresentadas na vida, muito discretas às vezes, mas que insistem em aparecer entre um dia e outro, no sonho ou na semana seguinte e por aí vai.

Algumas pessoas que me tem no convívio mais próximo não compreendem isso, outras ultrapassam meus limites, desafiando até minhas crenças, que prefiro manter de maneira mais discreta. Fato é que, ao abordar determinados assuntos, as pessoas nos mostram o quanto são crentes ou não e nos sinalizam o quanto devemos abordá-los em sua presença. Assim tomamos o devido cuidado com quem nos abrir, com quem falar sobre.

Meus amigos sempre ouvem algo aqui ou acolá de minha parte, alguns aprendem que essa é minha maneira de ser e sempre damos um jeito de equilibrar as coisas, usando o bom senso nas abordagens em geral. Os amigos se respeitam e mesmo que não compreendam algumas coisas, apenas escutam e não opinam. Outros já nos mostram sua face cética e deixam claro não querer falar sobre o assunto. Outros ainda se interessam e deixam que a curiosidade os leve a ouvir novas coisas, novos assuntos e novas teorias que podem nos levar a novas percepções de vida. Minimamente outras abordagens de nossa essência e do que aprendemos nessa nossa rápida passagem pela vida.

Neste Natal fui presenteada com um patuá. A corrente dourada pendia de um lado um olho grego[ou turco] e do outro um coração com sal grosso. A proteção contra o olho gordo se equilibrando com o sal, que tem a propriedade de atrair e destruir energias de baixa vibração, ou seja, o que chamam de "energia pesada" do astral.

Sai uns dias e deixei meu patuá dentro da cestinha de brincos na minha casa e me mandei para a praia, não iria levá-lo para o mato, pronto.

Saí em um ano e voltei em outro. Cheguei em um dia e no amanhecer do outro, levantei-me e pronto, o choque do batente da porta de madeira resultou em uma fratura transversal da segunda falange do quarto pododactilo. Que dor.

Fiquei com o pé pra cima uma semana inteira enlouquecendo, pois para quem está acostumado a ficar zanzando para cima e para baixo desde a hora que acorda até a hora que vai para a cama, mudar o ritmo da manhã para a tarde é algo que troca tuas perspectivas. Senti o que é ser limitado em termos de movimentação, votei a escrever e resgatei o antigo hábito de leitura, até reativei o abajour no criado mudo e dei o que meu corpo precisava: ralentar o ritmo. E como eu não havia obedecido, simplesmente tive que parar.

Enfim, dias passados, ainda convalecente, em meu primeiro dia debutando como alguém que sairia após dias de clausura no apartamento em Perdizes, banho tomado e tudo, lembro-me que o patuá havia sido esquecido desde o ano passado. Quando identifico a corrente dourada no meio dos brincos, dediquei-me a desenroscá-lo, coloquei-o no pescoço e sai pulando porta afora.

No hospital, à espera do raio X, pensei que teria que retirar o patuá para tirar a chapa, logo me adianto e chocada fico ao notar que o coração com o sal grosso está simplesmente quebrado apesar do olho turco está intacto.

Ele servia pra me proteger do que mesmo?

no dia 11 do 01 de dois mil e 11



Após tantos anos, esbarrar no passado pode desenterrar muitas lembranças.

Abrir aquela gaveta já trancada há tantos anos, pode te transportar para outros lugares e estar com outras pessoas.

São incríveis as viagens que podemos fazer sem sair de nossas cadeiras, em frente ao computador, olhando a televisão, relendo uma velha agenda ou mesmo tirando pó de fotografias antigas.

O desejo escondido nas palavras, no quase gesto, nas memórias apagadas pelo vento, se transformam em pegadas esfumaçadas no chão de terra batida.

Bom lembrar que a vida é boa e simples, como o espírito era leve, e mesmo assim, ao olharmos para trás, conseguimos ainda perceber nossa história escrita em rastros quase imperceptíveis.

Lembrar o quanto nos encantávamos com pequenos gestos, como era divertido apenas dar risadas e nos desafiar em conversas nada lacônicas sobre nossa existência, além de conseguir nos desfiar em novelos complicados de descobertas internas.

Na troca de sorriso que virava encantamento do mundo, com o mundo, para o mundo, era possível encontrar-se na essência que tinha o puro propósito de ser sentido.

Um velho amigo contou-me sobre uma fala de Martin Buber que ele havia conhecido há pouco: "liberdade e destino estão solenemente prometidos um para o outro em casamento e unidos pelo significado"

Fica então um beijo não dado, do sonho não realizado de tempos não vividos, na vã tentativa de apreender a suavidade do ar fresco de nuvens coloridas

No mistério do sentir que foi apagado, o sol some na névoa deixando rastros de sangue no horizonte rasgado.