Acabei de emudecer após o término do filme “A lista de Schindler “do Spielberg. O filme todo é baseado em fatos reais e, graças a isso que podemos exercer nossa sensibilidade para tentar imaginar o que foi a dura e cruel realidade da Segunda Guerra para os judeus poloneses.
Schindler me tocou pois, a princípio, se mostrou um empresário alemão ganancioso que encontrou na mão de obra judia barata, uma maneira de enriquecer na Cracóvia em Guerra. Mas que, ao longo do tempo, seu intuito se torna ajudá-los, gastando sua fortuna para salvar vidas que seriam eliminadas nos campos de concentração nazistas.
Chamou-me a atenção uma das última cenas do filme: depois que Schindler se despede dos 1.200 operários de sua famosa lista, que conseguiu evitar a ida para Auschwitz, o carro parte logo depois da meia noite, horário oficial do final da Segunda Guerra, deixando todos os judeus sobreviventes à espera de sua sorte.
Falo sobreviventes da guerra, mas me dei conta que a partir do momento em que um soldado russo vem até o campo no dia seguinte à rendição alemã, onde todos dormiram ao relento esperando o dia amanhecer, questionamentos como ”para onde vamos”, o que iremos comer e sera que há algum sobrevivente na Polonia, tomam conta de cada um.
A partir daquele tão sonhado momento, o da liberdade anunciada, vem com ele uma grande insegurança: aquelas pessoas foram abençoadas com a proteção de um homem do partido alemão que os trouxe para a sua fábrica e agora seria caçado pelos aliados, não tinham para onde ir.
Tinham caminhado tanto, tinham sobrevivido à uma guerra tão dura de maus tratos à alma e corpo. Agora se deparavam com o momento pós-guerra, onde escutam do soldado que eles não deveriam ir a oeste que não seriam bem recebidos, tão pouco para leste…então uma nova sombra cerca seu futuro: para onde ir, de onde recomeçar. Ali estava marcado que eles deveriam começar um longo caminho ligado novamente à sobrevivência.
E sobreviveram. Na última cena do filme, aparecem como os judeus Schindler que vieram prestar sua homenagem ao seu salvador. Nesta hora, podemos ver as personagens que, ao lado dos verdadeiros donos dos nomes que carregaram, colocam uma pedra no túmulo do verdadeiro Schindler que jaz debaixo do sol em Jerusalém. Nessa procissão, vemos o pequeno Olek que se jogou numa latrina para sobreviver, homem feito, a Sra Schindler que ficou ao lado dele em seu retorno a casa, e tantos outros que pudemos acompanhar e padecer em lágrimas só de imaginar o que estas pessoas passaram nos momentos retratados ao longo de mais de três horas de filme.
Não consigo imaginar o que cada um desses, me atrevo a chamar de heróis de guerra, passaram para conseguir sobreviver a anos de privações e injustiças, além das perdas intestimáveis de parentes que se perderam entre os 6 milhões de judeus que foram sacrificados como se suas vidas nada valesse. Mas consigo me sensibilizar com esse sofrimento e revoltar-me com a crueldade e perversidade de uma ideologia que pregava o ódio e a intolerância.
Já vi diversos filmes sobre o tema do Holocausto e já tive contato com sobreviventes, e não há nada mais nobre e honroso que poder ter contato com um sobrevivente. Alguém que, ao meu ver, que não tinha nada com isso e pagou um preço muito alto.
Muitos, com a própria vida.
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