Ela sentia-se sozinha desde que se conhecia por gente.
Cresceu dentro de uma família numerosa, com muitos irmãos homens que falavam alto e sempre tinham a vez de falar na hora do almoço e jantar.
Ela cresceu tímida e sem voz ativa, suas idéias eram sempre ridicularizadas pelos irmãos troculentos.E ela cresceu insegura, ela era sensível demais.
Cresceu.
Na adolescência teve alguma confidência dos mesmos que a atropelavam na infância, mas mesmo assim, ela não se sentia parte do todo, pois quando estavam reunidos, ninguém podia escutar sua voz no meio das altas vozes dos irmãos e primos, ela era somente a única menina no meio dos meninos.
Por isso ela conheceu bem a essência dos meninos, podia bem compreendê-los em todos os sentidos, sabia como eles reagiam, o que eles queriam, o que desejavam e como pensavam. Mas isso não impediu que ela sofresse e sempre esperasse um reconhecimento como ser humano.
O tempo passou e ela se formou, cresceu e encontrou seu jeito de ser, bem diferente dos irmãos, da família, dos padrões.
Aprendeu que o grande exercício da vida consiste em aceitar as diferenças, coisa que ela não encontrou dentro de sua própria família, isso mexeu com sua sensibilidade e aflorou sua insegurança.
Assim cresceu, as duras penas, cresceu.
Hoje não tem final feliz nem infeliz, ela continua sensível, nem mais nem menos, continua insegura as vezes superando mais e outras menos, e segue com irmãos troculentos e de pouca sensibilidade, isso sempre muito, muito sempre.
Ela segue sabendo quem é, mesmo se ninguém de sua família saiba ou tenha notado que ela cresceu e se tornou algo a mais do que apenas diferente.