quinta-feira, maio 31, 2007

roubaram a franz schubert

foto zé pedro

a música instrumental de artur nestrovky me levou de volta às ruas da cidade jardim, onde tive uma visão que me deixou quase que chocada, não fosse o susto da nova imagem que se formou em minha retinas amanhecidas.

o antigo ponto de encontro de uma geração nos anos 80 na famosa cidade jardim, com suas marcantes casas noturnas, onde abrigavam iniciantes baladeiros, já não existe mais.

sim, as casas noturnas que recebiam aqueles jovens aspirantes à fase adulta aos finais de semana, não se encontram onde as deixamos e, no lugar delas, há um gigantesco prédio.

um, apenas um, monstruoso, que nos dá a certeza de não ter sobrado absolutamente nada, além daquilo que carregamos em nossas memórias.

e isso tem acontecido com a cidade de modo geral.

eu vivo aqui desde que nasci, salvo períodos que passei fora, sempre estive acompanhando o crescimento assustador da cidade.

há lugares que passo na vila madalena, por exemplo, que estão completamente descaracterizados devido à demanda da cidade.

outro dia fui para os lados do shopping morumbi, local que há muito não ia, e na volta pela marginal, quase bati o carro ao vislumbrar a magnânima construção que ali cresce velozmente à beira da avenida berrini.

o que é isso meu deus?

me senti em um filme antigo, onde me encontrar diante de tal construção seria justificável por ser uma obra faraônica. sim, aquilo que vi é de fato algo faraônico, e acho que o que mais me assustou foi constatar que a obra é mais alta que os prédios que beiram a marginal.

me entristece ver impotente nossa cidade mudar dessa maneira. sei, é para o bem de todos, muitos carros, muita gente, muita demanda. até fico aliviada em ver também iniciativas como a do pomar, que está trazendo o verde ao alcance de nossos olhos, seja à beira da marginal, seja onde for, pois o que mais sinto saudade é da cor verde que está assustadoramente sendo substituída pela cinza.

sinto que agora podemos de fato chamar nossa cidade de selva de pedra, tão raro ver o que se chama de selva literalmente...

foto thomas rohrert

terça-feira, maio 29, 2007

amizade


foto c. arruda


a amizade deve ser linda,
simples e
pura
pra fluir bem.
ela tem que vir com as melhores intenções,
daí tirar as melhores trocas e encontros que podem ser levados por toda uma vida.
uma amizade pode parecer boba, ingênua, mas ela pode ter o poder de muitos.
ela ajuda, constroí, nos faz ver a nós mesmos, nos ensina o que é o companheirismo, a incondicionalidade sobre as relações, a paciência com o próximo, nos faz rir de nós mesmos e nos faz crescer.
amizade é troca constante.
perder uma amizade é perder parte de si, de uma história.
saber conservá-la é saber se valorizar e cultivar coisas boas na vida.

cada amizade é unica.
cada encontro é especial.
cada olhar aprofunda.
cada toque aproxima.

amizade para saber, só vivenciando.

quer ser meu amigo?

terça-feira, maio 22, 2007

t.o.q.u.e.




o toque, sem registro, é apenas o toque.


prazeroso e duradouro enquanto dure, na vã tentativa de aprofundar os laços, esbarra no próprio gesto de tocar.


o ser tocado sem tocar.


imagem esta que perdura e se faz confirmada pela falta de zelo das informações passadas e intimidades trocadas.


o ar blazê de não sei, não soube e não me interesso em saber se coloca na balança das coisas importantes.


a balança pende sem chances de empate.


e a partir daí, a escolha a ser feita: insistir na tentativa do efetivo toque dentro do iminente risco de ser [efetivamente] tocada, ou buscar o ser que se deixe tocar sem medo do real toque daquele que deseja tocar e ser tocado.

conversa íntima



não sei ao certo se posso/devo/consigo fazer das tuas as minhas convicções.

claro, cada um tem uma bagagem de vivências, assim como de medos, de traumas, de alegrias e de ponto de vista.

olho no espelho e vejo uma mulher formada-no interior creio muito longe disto- mas seria bobagem crer que poderia encontrar alguém para crescer junto? Alguém que pudesse dividir meus medos mais profundos assim como minhas maiores conquistas?
será que perdi o bonde?
será que, em algum lugar eu peguei outro caminho fazendo escolhas que julguei acertadas para a época e para aquilo que acreditava precisar viver; e nessa retomada de estrada, já não tenho mais os sapatos certos para esta caminhada?

afinal não somos os mesmos, não somos iguais às pedras que encontramos pelo caminho.

acredito em muitas coisas e acredito que posso mudar o que acredito, mas me agredir para tentar acreditar em coisas que nunca acreditei, já acho que vai contra a minha natureza.

desculpe, mas não posso ...

... preferível te perder a ficar ao teu lado sem ser eu mesma.

segunda-feira, maio 21, 2007


lembrei-me da garrafa que jaz na geladeria até hoje.

não foi suficiente.

lembrei das risadas dadas com tanto entusiasmo.

não foi suficiente.

lembrei-me dos dias passados tão intensamente diante do computador, como num suspiro desesperado pela presença do outro, em dias de passado remoto.

não foi suficiente.

não sou daquelas de dar bronca, pelo contrário, sou até sutil demais aos mais desavisados.

mas isso também não foi suficiente.


e tua não sutileza me atropelou em inúmeros telefonemas enloquecidos por um papo vazio, desavisado de mágoas recentes.

a garrafa está lá ainda, e eu, sem saber ao certo que destino dar a ela, deixo-a, como deixo nossa amizade na geladeira.


até o tempo se encarregar do resto.

domingo, maio 20, 2007

engano real


e quando achei que estávamos dando um passo para frente, olhei atráves do vidro embaçado e pude enxergar os dois passos para trás que de fato demos.


me retraio no frio que me abriga e saio de cena para pensar se aceito-te assim, ou se simplesmente levarei minha vida do jeito que estou pronta para levar.
pois sinto que estou pronta.


e imaginar que foi um encontro desencontrado.

chorar o que tenho pra chorar e seguir sem olhar para trás.

sem pensar tanto no famoso

'podia ter sido você'...

quarta-feira, maio 16, 2007

sonhos


entre sonhos, devaneios e entrelaçar de pernas, o desenho de duas rosas se fez nítido; uma branca e outra negra, em um balé perfeito na noite escura.

senti ainda mais: um conjunto de cubos transparentes que se encaixavam ao longo dos corpos num infindável jogo de preto e branco.

a tranquilidade do sono de depois se perdeu depois do beijo de despedida.

devo confessar que o exercício de abrir a porta de minha casa não foi fácil, mas também me trouxe a dificuldade de deixar-te ser engolido pelo gélido ar da madrugada, abandonando sua imagem esfumaçada na penumbra.

o radio ligado que antes nos acobertava, se tornou vazio e a risada da lembrança dos pés descobertos fora da cama se fez presente.

em meio a sonhos, devaneios, e entrelaçar de corpos, as cobertas nem foram ajeitadas devidamente.

e o teu cheiro ficou, assim como o calor de suas mãos em minha pele.

fechei os olhos e sonhei novamente.

terça-feira, maio 15, 2007


a noite fria nao era convidativa ao melhor dos passeios.

sai mesmo assim.

o vento gelado cortante me deu a certeza de ter escolhido bem o casaco pego no último minuto.

andei alguns metros quando notei, através da sombra no chão, uma segunda figura que me acompanhava. virei-me imediatamente e identifiquei uma figura masculina, nada suspeita, mas que, nitidamente se embaraçou com meu olhar curioso e repentino.

mudei de calçada e ele me ultrapassou do outro lado da rua.

segui meu caminho imersa em pensamentos, quando fui acometida por um fato novo: ao sentir estranha presença em minhas costas, me virei subitamente.

reconheci a mesma figura masculina desenhada no chão sujo metros atrás.

a incompreensão foi imediata: eu havia acabado de deixá-lo do outro lado da rua e lá estava ele, quase que grudado em mim.

meu sobressalto o deixou mais embaraçado ainda, mas logo sacou a chave de seu bolso deixando bem claro que nosso furtivo encontro terminaria ali, naquele portão.

segui e me vi sozinha olhando para o prédio de amigos-vizinhos pensando se deveria tocar a campainha ou não. optei pela segunda alternativa e segui pela calçada fria até de deparar com a própria vizinha fora de casa.

após abraço caloroso, a tentativa ao longo de dez minutos de colocar a vida em dia , mas principalmente saber uma da outra na tentativa de abafar a distância e a falta de convívio.

os inevitáveis e incessantes questionamentos de minha ausência prolongada no conhecido ponto de encontro me suscitaram um certo incômodo, pois nao consegui efetivamente me explicar.

após despedida, continuei meu caminho até me sentar na mesa do bar de esquina tão familiar na tentativa de me aquecer em minhas palavras no caderno surrado que levava debaixo do braço.

o telefone tocou e assim se configuraria mais um encontro...