Os carros parecem os mesmos.
Na verdade nesta manhã de sol, já quente as oito da manhã, os carros me parecem mais numerosos do que os outros dias.
Paro de cem em cem metros, a cada sinal vermelho que me impede de chegar em meu destino o quanto antes.
Sempre na correria.
Estava relendo o texto que escrevi há pouco sobre os taxistas. São apenas divagações, mas de um ponto de vista de alguém extremamente de acordo com a velocidade que esta cidade nos impõe.
Percebi que preciso de uma dose de Ceará, visto que faz um bom pedaço que não apareço por lá. Ir para o nordeste me ralenta e me traz calma, justamente a calma que preciso para sobreviver por aqui.São 12 anos de namoro, e meus amigos de lá não entendem isso, aliás eles não entendem porque não fico por lá de uma vez por todas.
Nem eu entendo.
Justifico a falta de coragem, eles contra-argumentam dizendo que sou teimosa. Pode ser.
Ontem me dediquei a uma faxina em meus velhos manuscritos, guardados com tanto afinco por tanto tempo.
Abri caixas de cartas e bilhetes já amarelados e amassados pelas lembranças que traziam consigo. Comecei a abrir pacientemente um a um, lendo e tentando guardar em meu chip pessoal uma lembrança das pessoas que escreveram coisas, há tanto tempo, para a então menina que vivia coisas incríveis na descoberta do mundo.
Meu horóscopo me avisou que eu entraria em contato com meu passado neste dia e que era para eu aprender algo. Bem, entrar em contato com o passado eu entrei, mas aprender, não sei bem, talvez constatar que fui muito importante para algumas pessoas – segundo elas.
Claro que havia guardado somente as cartas mais interessantes do ponto de vista amoroso/romatico, fiquei até lisonjeada com os elogios e declarações, mas isso faz parte justamente do passado. Nós mudamos, vivi muito, pude perceber isso pelas cartas e bilhetinhos.
Deparei-me em fotos e tempos diferentes do que sou agora. Por horas estive dentro das salas do cursinho, estive viajando, voltei aos anos noventa, auge de minhas aventuras em busca de mim mesma, seja aqui, seja na Europa.
Peguei-me revivendo mmomentos,emoções e sentindo as mesmas sensações que permearam a alma de uma jovem sedenta em tempos vividos.
Questionamentos vieram a tona, porque não fiquei longe, não me virei lá fora, Tanta coragem para sair e nenhuma força para ficar. Nesse pacote vieram as pessoas que por minha vida passaram, havia gente que nem sequer me lembrava.
Foi um flash, foi profundo, foi forte, e por mais que eu desejasse ter essas lembranças todas de volta para a velha caixa de sapatos, consegui absorver todos estes momentos e jogar o que restou deles no lixo reciclável, claro.
Ai, que saudades de poder sentar na rede e ficar naquela vida besta do momento.

Pelo menos por um momento.
Um comentário:
a perspectiva deixou me impressionado, percebi certo concretismo ao longe ; desabrochando talvez... adorei o desenho, gostei mesmo.
Dantas . F
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