A rua estava vazia, poucos carros passavam, poucas pessoas caminhavam, o frio reinava e eu tentava me esquentar dentro do casaco. O clima me remeteu à lugares distantes em tempos vividos há muito, muito tempo.
A lente dos óculos escuros escondia o esforço de estar ali fora, quando o que mais queria era estar dentro. Talvez dentro de mim mesma.
Senti vontade de voltar assim que atravessei a rua, mas encarei uma volta no quarteirão: desviar das pessoas no ponto de ônibus em frente a escola; cruzar com o mesmo senhor gastando água em sua calçada; os mesmos cheiros e lugares, as flores que se renovam, a barraca de pastel que fica ali solitária na esquina dominical, o mendigo que talvez nem tenha dormido na sua calçada úmida esta noite, não deixou de varrer as folhas acumuladas no chão.
A volta se completa, e a única coisa que quero é voltar para dentro. Preciso disso. Agora.
A letra da música "Across de Universe" ecoa na minha cabeça e sou obrigada a discordar do refrão: Nothing's gonna change my world - Já está tudo mudando, já vejo coisas mudadas nesse breve espaço de horas corridas entre ontem e hoje.
Sei que depois que sair do casulo, o sol estará brilhando novamente, tudo em seu devido equilibrio, inclusive eu mesma.
E o refrão muda instantaneamente: Here comes the sun...

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