Os anos passaram e o que eu gostava nem sempre corresponde ao que eu gosto hoje em dia.
Os sabores mudaram ou mudou minha boca;
mudou minha boca ou minha cabeça;
e se mudou minha cabeça, certamente mudou aquilo que que coloco em minha boca,
e assim os sabores se tornam distintos do que foram um dia.
O sabor de infância é um daqueles que jamais se esquece --ele está ali, em nosso banco de dados, às vezes é ativado por alguma situação, odor ou mesmo sabor de algo que vivemos ou conhecemos naquela/daquela época. Sabores das idades, basta ouvir uma música que as cores daqueles momentos que vivemos aparecem diante de nossas pupilas abertas pelo tempo, dilatadas pelos sabores que somente nós podemos identificar dentro da caixa de memória de cada um.
Há sabores do presente que cultivamos por prazer, sabores estes que detemos com mais consciência e que farão parte de nosso chip de memória humana, para futuros acessos.
Há sabores amargos, que por empirismo tendemos a evitar; há sabores salgados como a água do mar --mas sal, principalmente o grosso, é sinônimo de limpeza, e mar, do infinito da natureza.
Mas o sabor mais refinado, único em todos os sentidos e em suas sutilezas, e que não há nada que se compare, é o sabor de gente.
O sabor de gente não se resume em gostos, mas no gesto, no carinho e na marca que a pessoa nos deixa cravada --no coração, no pulmão e às vezes nas víceras. O sabor de gente não se compra na esquina nem se adquire na internet e sabor de gente precisa estar aberto para senti-lo.
Não há curso nem apostila para isso: há sensibilidade para ver, para observar, para enxergar --depois para sentir, mas o sabor de gente se sente somente com a alma, e essa não é tão fácil acessar.

outro dia senti que perdi a mão no sal de minha comida.
por temer o excesso, pequei na falta.
será que estou perdendo a mão do sabor das pessoas???
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