Tarde ensolarada de terça feira:o cachorro pulava frenticamente em um interminável vai-e-vem entre o banco da frente e o banco de trás. O sol entrecortado pelas siluetas dos prédios nos iluminava de maneira initerrupta. Sentada no banco do passageiro, observava tudo calmamente. O dia estava calmo, dentro e fora do carro.
Ela dirigia tranquilamente enquanto aproveitava os sinais vermelhos para arrumar seus cabelos amanhecidos da lavagem. A hora passava e o caminho errado não abalou sua tranquilidade: fez o contorno, buscou o caminho de volta sem deixar de cantarolar.
Quando finalmente chegamos à pequena vila ensolarada escondida no meio de uma agitada rua nos jardins, parou o carro em frente ao portão para se identificar, quando se deparou com aquele fio branco que jazia em um contraste gritante com o azul de sua calça. Ela não conseguia disfarçar o choque da descoberta. Curiosa, pegou o fio entre os dedos indicador e polegar e o colocou diante de seus olhos estarrecidos a fim de analisa-lo com mais apuro.
Diante do que via, meu constragimento me impulsionou a olhar para outro lado disfarçando instigada com o desenrolar de toda a cena.
Murmurou algo como " não é do cachorro, é muito longo para ser dele, então só pode ter caido da minha cabeça". Tão jovem, ela não esperava tal descoberta: os fios de cabelo branco começavam a brotar em sua cabeça inexperiente. Imediatamente ela fez a previsão dos próximos passos: ela não pintaria, ou 'enlouraria' como dizem por aí: ela assumiria cada fio novo, por mais que demorasse para digeri-los em sua presença ameaçadora entre seus longos cabelos escuros.
Em um ataque de egocentrismo aliado à vaidade extrema, puxou o espelho retrovisor em uma vã tentativa de controle do aparecimento de outros eventuais fios. Ajeitou o cabelo como se precisasse ajeita-lo da melhor maneira possível, assim ela poderia resgatar os tempos sem eles, os fios brancos.
O sol batia em seus lindos cabelos, e ela continuaria radiante apesar de sua nova realidade.
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